Aqui, desculpem, mas continuo a achar que é essencialmente uma questão de deixa andar, porque é mais fácil por a cassete a tocar, além de que, obviamente, é um modelo que sai mais barato. Tentem provar-me por a+b+c que as pessoas querem ouvir a Chamada Não Atendida da Bárbara Tinoco 300x por dia, bem como que mudam de posto se tiveres um noticiário de mais de 10 segundos. Isto é uma opção de quem programa, ponto final, paragrafo, porque é o mais barato.
Aliás, se as pessoas quisessem assim tanto a Spotify FM, nas horas de ponta, as rádios davam-lhe isso e pronto. A Metropolitana seria líder de audiências, exceto no horário da Legião da Boa Vontade.

Não me atirem areia para os olhos. Fazer rádio de palavra dá trabalho, custa dinheiro e não é para todos. Mas também há quem a queira fazer e não possa. Aliás, isto teria de ser um problema genético que afetasse este retângulo de Valença do Minho a Vila Real de Santo António, só gostarmos de música fácil, e sentirmos arrepios na espinha cada vez que alguém diga mais que três palavras seguidas (exceto se for para anunciar o Show Me the fucking mala). Sem cair na forma extremada do Atento, para quem ninguém tem qualidade, a verdade é que caímos num caminho de facilitismo do qual, quanto mais percorremos, mais difícil fica sair, e mais limita as capacidades de progressão de carreira de quem é realmente excelente.
Ninguém está a dizer que a Comercial e a RFM têm de ser rádios de palavra. O modelo que têm é necessário, com melhoramentos que as farão ganhar audiência, não perder. E não, isto não é conversa da bolha. Por vezes, acho é que programadores e gestores, meteram-se numa bolha da qual não conseguem ver mais além, prejudicando auditório, anunciantes e locutores.
Agora, dizermos que ter um programa de autor ao fim-de-semana vai fazer dano às audiências e aos anunciantes... brincamos? Há falta de gestão nas rádios, e, já agora, de quem tenha disposição para arriscar, do lado do capital. Nesse aspeto, cheers à Observador, porque mesmo sendo um projeto político, e não apenas de comunicação social, podia arriscar muitíssimo menos do que o que faz, tendo os mesmíssimos resultados, ou até porventura melhores, do ponto de vista da "doutrinação".