
DX de estações de rádio
FM e de televisão terrestre:
Embora a propagação
das ondas de
rádio em FM/VHF/UHF sejam feitas de forma directa, isto é, o
emissor
irradia a energia sob a forma de ondas electromagnéticas em
linha
recta, que mais tarde é captada por uma antena ligada ao
receptor
(sintonizador de rádio ou televisão), existem algumas
situações mais ou
menos frequentes que permitem que as ondas possam atingir
distâncias
maiores que as normalmente registadas.
Antes de abordarmos
as diferentes
formas de propagação, convém termos em consideração que a
propagação de
sinais não depende do
tipo de modulação utilizado. Isto é, se estamos a
falar de
recepção na faixa de televisão em UHF, tanto importa se o
nosso
objectivo é visualizar emissões analógicas ou digitais (TV
Digital
Terrestre), que a propagação depende
da
frequência utilizada e não do sistema de tv adoptado
na
emissão.
De igual forma, se considerarmos a faixa VHF-III, a
propagação
não depende se estivemos a ver televisão analógica ou a ouvir
emissões
de rádio digital DAB. Assim, a nossa preocupação deve
centrar-se na
optimização da recepção para a(s) faixa(s) pretendidas, pois
de nada
serve termos um bom sintonizador de rádio FM ou um
descodificador TDT
com boa sensibilidade se não tivermos uma antena adequada à
faixa em
que estes serviços permitem. Naturalmente que estes princípios
estendem-se à captação de emissões provenientes de
"walkie-talkies"
PMR446 ou de transceptores de radioamador a operar em VHF/UHF,
para não
falar de outros serviços que utilizam parte da faixa 30-3.000
MHz.
- Propagação
troposférica (ou, abreviadamente, tropo)
[em inglês, tropospheric
ducting]-
A troposfera é uma camada da atmosfera terrestre
que, em certas condições meteorológicas, pode propagar ondas
de rádio.
Este tipo de propagação está normalmente associado a
anticiclones
formados em dias de temperaturas elevadas, pelo que é
frequente no
Verão, mas também regular, com maior ou menor intensidade,
no final da
Primavera e no início do Outono. O desenvolvimento de
nevoeiro na
atmosfera também favorece a propagação de sinais nestas
condições, devido às alterações atmosféricas
resultantes deste
fenómeno
natural. Por outro lado, a condução troposférica é
afectada
pela orografia, uma vez que a presença de montanhas com
altitude
considerável pode constituir um obstáculo ao desenvolvimento
de
"tropos". A humidade do ar também é um factor crucial para a
formação
das condições propícias a esta forma de propagação de ondas
electromagnéticas, pelo que a condução troposférica em
regiões
desérticas é praticamente nula; naturalmente que não sendo o
caso de
Portugal, esta última
informação é fornecida mais a título de curiosidade (a não
ser que o
leitor deste artigo viaje para as grandes áreas desérticas
do mundo
como, por exemplo, o Deserto do Sahara.).
Refira-se que existem certas regiões do mundo onde,
mercê do clima, a
propagação troposférica estabelece-se durante meses. O caso mais
paradigmático situa-se entre o Mar Mediterrâneo e o Golfo Pérsico,
onde
a recepção de sinais a cerca de 1600 km de distância do emissor é
praticamente constante durante o Verão.
A
condução troposférica afecta sobretudo as
banda VHF-II (FM) e III (televisão), mas também as faixas
IV e
V da UHF (TV). O sinal de uma emissão captada por propagação
troposférica é estável e pode ser suficientemente forte para se
sintonizar uma emissão de rádio em FM em estéreo
(eventualmente com RDS) ou, por exemplo no caso da televisão
analógica,
um canal de televisão com baixo ruído e
cores vivas. Esta propagação pode atingir centenas de
quilómetros, em
certos casos, até mais de 1000 km do emissor.
Em Portugal, mormente no sul do continente
(Alentejo e
Algarve), não é raro ouvirem-se emissores de outras regiões do país,
mas também da vizinha Espanha; mais surpreendente, a captação de
emissores de Marrocos (mais de 500 km da costa portuguesa), do
arquipélago da Madeira (~1000 km) e até das Ilhas Canárias (mais de
1200 km)
é possível na costa
portuguesa!
A propagação troposférica pode ser sujeita a
previsão, baseada na meteorologia. Uma página de Internet que
recomendo
vivamente a quem quer tentar algumas captações interessantes é a "
Tropospheric
ducting
forecast" do meteorologista William R. Hepburn.
.
- Propagação
ionosférica (em inglês, Sporadic
E) - A
ionosfera é uma camada da atmosfera que tem a
particularidade de
propagar ondas de rádio, nomeadamente as ondas curtas e
médias. Todavia,
em
condições irregulares e excepcionais,
que podem durar de vários minutos até algumas
horas, a camada E da ionosfera pode reflectir sinais de VHF
até cerca
de 150 MHz (ver figura):

Normalmente,
a
Banda I de TV é a primeira banda afectada por este fenómeno,
mas por
vezes a
faixa de radiodifusão VHF-FM (87,5- 108 MHz) e,
excepcionalmente a
banda III também podem sofrer esta alteração do percurso das
ondas, que
pode atingir mais de 1000 quilómetros. Esta propagação também
é chamada
como "E esporádica"
("Sporadic E
") ou "salto da E"
("E skip")
e ocorre maioritariamente (no Hemisfério Norte) entre os meses
de Maio
e Setembro de cada ano, com pico em Junho e Julho. Pode
existir um
segundo pico, de menor intensidade, nos meses de Dezembro e
Janeiro,
altura em que é Verão no Hemisfério Sul. De salientar que uma
abertura
pode ocorrer em qualquer dia do ano e hora, pelo que não é de
descartar
a possibilidade de praticar DX fora dos períodos mencionados.
Uma E
esporádica não
está relacionada com a propagação
troposférica, mas pode estar associada a outras formas
de
propagação, e, por vezes, surgem esporádicas de vários
saltos, ou seja, as ondas "viajam" ao espaço, são reflectidas
de
volta para a Terra, sofrem mais uma reflexão para o espaço e
voltam
para a
Terra, em "ziguezague"; neste último caso as distâncias
atingidas são maiores (mais de 2000 km).
Quando as
condições ionosféricas o
propiciam, as esporádicas surgem quando menos se espera, começando
a
afectar as frequências da banda I da VHF (TV). Todavia, e à medida
que
a abertura se consolida, a reflexão da ionosfera atinge as
frequências
mais baixas da faixa de radiodifusão VHF-FM (87,5 MHz; 87,6 MHz,
87,7
MHz...), chegando frequentemente acima dos 90 MHz; em condições
bastante raras,
a abertura pode alcançar frequências acima dos 108 MHz
(limite
superior da VHF-FM)... atingindo faixas como os 144 MHz (faixa de
radioamadorismo emissor), eventualmente chegando ao canal 5 de TV
(175,25 MHz), propiciando captações muito interessantes.
Existe um
conceito
utilizado pelos entusiastas e Dxistas da VHF, que se
denomina MUF - Maximum
Usable Frequency. Em português: frequência
máxima
utilizável - isto é, a frequência máxima que é reflectida
pela ionosfera, que depende de abertura para abertura, podendo
chegar
apenas às frequências mais baixas da VHF; nos casos mais
favoráveis
poderá chegar à banda FM, atingindo emissões de radiodifusão que
inclusivamente podem interferir os emissores da nossa região, ou,
como
referi, em casos raros, a ionosfera "abre-se" para cima de
100
MHz! Tudo depende das condições de propagação.
Regra geral, os
sinais recebidos no decorrer de uma abertura são instáveis,
sofrendo desvanecimento (fading),
por
vezes encobertos por outros emissores, no caso da banda de VHF-FM,
eventualmente será possível ter sinal suficiente para descodificar
o
RDS de algum emissor captado. No caso da banda I de VHF, se as
condições forem favoráveis, poderemos ter alguns segundos/minutos
de
imagem/áudio relativamente estáveis, facilitando a identificação
da
emissão recebida. Por outras palavras, não convém pensar em
aproveitar as esporádicas para acompanhar regularmente
emissões de outros países: para isso, o melhor será recorrer à
"velha"
Onda Curta, a par do satélite e a Internet! Mas, por outro lado,
as
esporádicas são muito interessantes para quem quiser praticar DX e
tentar ouvir/ver emissões radiofónicas ou mesmo televisivas a
milhares
de kms do emissor.
Na óptica do
ouvinte de rádio comum, as esporádicas são "indesejáveis",
pois interferem com os emissores habitualmente sintonizados,
admitindo
que
ninguém gosta de ouvir a sua rádio favorita com interfências de
outras
emissões... No entanto, para quem gosta de questões mais técnicas
e
tiver curiosidade de ter um "cheirinho" de emissões de outras
paragens,
as esporádicas serão muito interessantes, pois poderá ouvir coisas
que
nunca
imaginaria ouvir na VHF-FM em Portugal! Por cá, no continente, não
é
raro ouvir-se emissores FM de países como Espanha, França, Itália,
Reino Unido, Argélia, Tunísia, entre outros.
Uma
vertente particularmente interessante do DX em FM é a exploração da
faixa FM reservada pela OIRT (65,8 a 74 MHz), ainda utilizada em
vários
países da Europa de Leste e Ásia (Rússia, Bielorússia, Moldávia e
Ucrânia). Se bem que esta faixa tem sido paulatinamente abandonada a
favor da faixa 87,5~108 MHz, com um receptor adequado e se a
propagação
o permitir, será,
em princípio, possível captar emissões nesta faixa em Portugal.
Convém
ter em conta que as emissões OIRT não costumam dispôr de
funcionalidades RDS e que a esmagadora maioria dos receptores
oferecidos no mercado português (e do mundo) não cobre esta faixa,
pelo
que a aquisição de equipamentos usados e fabricados na antiga União
Soviética será certamente de considerar pelo Dxista que estiver
efectivamente interessado na exploração desta banda. Tal
como em muitos outros casos, um obstáculo potencial ao interesse na
captação será a inevitabilidade das barreiras linguísticas, mas,
mesmo
que não consigamos entender o conteúdo da emissão, é necessário ter
esperança na escuta de um "jingle" identificativo da estação.
Com
o advento da Televisão Digital
Terrestre em muitos países da Europa, na América do Norte, e
em outras
regiões do mundo, muitos dos emissores de televisão na
banda I de
VHF foram desligados ou estão em vias de o ser; todavia, ainda
existem
vários países na África, na Europa de Leste, na Ásia, para não
referir
outros casos, onde a banda I continua activa. Não obstante, em
vários
países que abandonaram (ou estão em fase de abandonar, como o
caso de
Portugal) a televisão analógica, os radioamadores foram
autorizados a
ocupar as frequências em causa. No caso do nosso país, a
ANACOM autorizou
a utilização da faixa 50-52 MHz (banda dos 6 metros) a partir
do dia 26
de Abril de 2012 (dia do "apagão" analógico). Por conseguinte,
ainda
que deixe de haver serviços de TV, a faixa continuará a ter
alguma
actividade (embora, como se saiba, as comunicações amadoras
sejam
erráticas e sem horários definidos a não ser pelos próprios
entusiastas.).
- Propagação
Transequatorial
(em inglês, Transequatorial
propagation (TEP) ) -
Este
tipo de propagação, descoberto em 1947, permite captar emissores
de
rádio e TV através do Equador, atingindo distâncias na ordem
dos 4.800 a 8.000 km. A
recepção de emissões entre os 30 e os 70 MHz é comum, mas se a
actividade solar o proporcionar, a captação de sinais até aos 108
MHz
(faixa de VHF-FM) é possível. Por outro lado, a recepção de
emissões
acima de 220 MHz é extremamente rara. Em qualquer dos casos,
para se poder usufruir deste tipo de propagação, as estações
emissoras
e receptoras devem-se estar equidistantes do Equador.
Existem dois
tipos distintos de "TEP": a "Afternoon
TEP" e a "Evening
TEP", algo que poderíamos tentar traduzir para Português
como a "propagação de tarde" e a propagação "ao final da tarde".
No primeiro caso, sinais até 60 MHz poderão atingir
distâncias na ordem dos 6400-8000 km, apresentando frequentemente
distorções devido à reflexão de ondas (multipercurso / multipath).
Já
a propagação no final de tarde terá o seu pico entre as 19 e as 23
horas locais, permitindo a captação de emissores até aos 220 MHz,
eventualmente, em circunstâncias raríssimas, até aos 432 MHz.
- Salto da F2 (em
inglês, F2 Skip)-
Este tipo de propagação a longas distâncias é, certamente, o
mais
interessante para o DXista, uma vez que as distâncias
obtidas são
excepcionais: pode-se dizer , literalmente, que se consegue
ver
televisão do outro lado do mundo. O salto da F2, como o nome
indica, é
causado pela camada F2 da ionosfera, quando o ciclo solar
está no
máximo da sua actividade, o que acontece de 11 em 11 anos.
Esta camada
é utilizada pelas ondas curtas, mas quando a frequência
máxima
utilizável aumenta, a Banda I de VHF é atingida, permitindo
que as
distâncias sejam de milhares de km's! A frequência máxima
utilizável,
nestes casos, pode ir até 60 MHz. O sinal é variável, com fading
e as imagens
recebidas sofrem uma grande distorção. Sendo o tipo de
propagação mais
apetecível para o Dxista de TV, não deixa de ser também um
dos mais
difíceis de se "apanhar", uma vez que, devido às
perturbações a que os
sinais são sujeitos na sua "viagem" entre
emissor/ionosfera/antena
receptora, exige que o Dxista esteja munido de um bom
receptor, bem
como um equipamento de recepção (antenas, cabos, etc.)
de
alto ganho, que permita a recepção de sinais muito fracos.
Inobstante a
migração da televisão analógica para a TDT na Europa e
América do
Norte, ainda existe um número razoável de países que mantém
emissões de
tv nesta faixa, pelo que este tipo de propagação continua a
despertar
algum interesse por parte dos entusiastas.
- Reflexão por
meteorito (em inglês, meteor
scatter)-
A
passagem de um meteorito perto da Terra pode reflectir
sinais VHF
durante um curto intervalo de tempo, de milésimos de
segundos até
poucos segundos (quando há "chuva" de meteoritos,
popularmente
designada por "estrelas cadentes"). É necessário que o
Dxista tenha o
equipamento estável e pré-sintonizado para que se consiga
receber uma
emissão; nestes casos, quanto muito, a identificação do
programa
obtém-se a partir do RDS da rádio (FM) ou através do
logótipo do canal
de televisão, pois o tempo de captação será insuficiente
para se
acompanhar a emissão.
- Dispersão
devido
a raio (tradução livre do termo inglês lightning
scatter)
- Durante uma trovoada, os raios, ao serem descarregados,
ionizam o ar
à sua volta. Os gases da atmosfera quando são ionizados
permitem a
reflexão dos sinais de rádio na banda VHF, nomeadamente na
faixa de
radiodifusão VHF-FM (87,5~108 MHz em Portugal e em grande
parte do
mundo). Deste modo, na presença de uma trovoada forte, é
possível que
ocorra um fenómeno semelhante à reflexão por meteorito, em
que é
possível, por alguns segundos, a recepção de sinais mais
distantes.
AVISO 
Em dias de trovoada, e se utilizar uma antena exterior, deve, por
motivos de segurança, desligá-la do receptor. Se
não tiver de sair de casa por um motivo atendível, jamais tenha a
ideia de se deslocar a um descampado ou outro local não protegido,
no intuito de tentar realizar captações no rádio. Recomendo
vivamente que, se quiser tentar o DX dentro de casa, utilize um
rádio portátil desligado da rede eléctrica (alimentado a pilhas ou
bateria). O DX é um passatempo muito interessante, todavia não
vale a pena correr riscos elevados para a sua integridade física e
a da sua família, bem como
para os equipamentos eléctricos da sua habitação.
- Auroras boreais
- As auroras boreais, fenómeno atmosférico que acontece
normalmente
em zonas próximas dos pólos terrestres, sobretudo quando a
actividade
solar se encontra elevada, podem reflectir sinais de rádio
e televisão. Como uma aurora é um mau reflector, as imagens
de TV são
altamente distorcidas, pelo que dificulta imenso a sua
identificação.
Todavia, o som pode eventualmente não sofrer perturbações,
pelo que a
presença de uma
aurora favorece a recepção de emissões de rádio FM e o som
dos canais
de televisão na faixa de VHF. Como é evidente, este tipo de
propagação
não beneficia propriamente o território português (por se
encontrar
longe do Pólo Norte), mas, em casos excepcionais, será, em
teoria,
possível a recepção de sinais reflectidos por uma aurora, em
Portugal.
Os períodos mais favoráveis à propagação coincidem com os
equinócios,
entre meados de Março e Abril e entre os meses de Outubro e
Novembro.
Este fenómeno de propagação pode afectar as frequências VHF
até 200 MHz.
- Propagação
TLT
(Terra-Lua-Terra)
(em inglês, EME
- Earth-Moon-Earth):

Certamente a mais exigente e desafiante forma de propagação de
sinais
VHF e UHF. Como o nome sugere, a TLT baseia-se na reflexão de
sinais
VHF e UHF na superfície da Lua, sendo "devolvidos" à Terra. A
grande
distância entre a Terra e a Lua (cerca de 385 000 km) , aliada
às
perdas de sinal durante o percurso, afectam negativamente a
relação
sinal/ruído das transmissões, pelo que a TLT exige o recurso a
antenas
e receptores de grande qualidade (muito boa sensibilidade).
Mesmo que o
entusiasta do DX se muna de tais equipamentos, o mais provável
é
limitar-se a captar um sinal fraquíssimo, pouco acima do nível
de ruído.
Atendendo
a estes contrangimentos, este tipo de propagação é pouco
explorado, mas
existem radioamadores nas faixas VHF/UHF que dedicam a esta
vertente do
DX; é curioso notar que, mercê da distância em jogo, existe um
atraso
de cerca de 2,5 segundos entre a emissão e a recepção. Assim,
um amador
que termine o contacto poderá voltar a ouvir a sua voz 2,5
segundos
depois do sinal ter "saído" da sua antena, viajado pelo Espaço
em
direcção à Lua, ter sido reflectido no satélite natural da
Terra e
regressado ao local da transmissão.
Existem outras
formas de
propagação DX, mas são bem raras, pelo que não são
consideradas neste
artigo. Note-se que existem fenómenos de reflexão e refracção
de sinais
radioeléctricos, nomeadamente em zonas montanhosas, que
estendem a
cobertura de um emissor além do previsto, cujas captações não
devem ser
consideradas "DX", já que são o resultado de um efeito
permanente.
Para os leitores
deste artigo que
dominem a língua
inglesa, sugiro que consultem outros sítios Internet sobre a
propagação de ondas VHF e UHF a grandes distâncias, onde estes
e outros
fenómenos de propagação são descritos de uma forma mais
rigorosa:
Antenas
e
receptores:
Não obstante a importância de se conhecer os diversos fenómenos
que
propiciam a propagação das ondas VHF e UHF a grande distância,
este
artigo ficaria incompleto se não considerasse outro factor
importante
para o sucesso na captação de emissões longínquas: a qualidade
do
equipamento utilizado. Se é principiante no Dxismo, sugiro que
leia o artigo "10
dicas para se iniciar no DX de emissões
de rádio FM", onde falo de
alguma informação básica a respeito deste passatempo.
Focando-me na recepção de sinais de
radiodifusão na faixa VHF-FM
(87,5~108 MHz), o ouvinte que tenha como desígnio a prática do
DX não
deve menosprezar a qualidade do receptor utilizado. Muitos
rádios
baratos apresentam sensibilidade (capacidade de receber
sinais
fracos) relativamente débil e selectividade (capacidade
para
separar duas emissões em frequências adjacentes) que também
deixa muito
a desejar. Uma vez que os sinais distantes se apresentam
frequentemente
com sinal fraco e são interferidos por sinais locais, o Dxista
deve
optar por um receptor de alta
sensibilidade e selectividade
elevada.
Note-se que não existe uma correlação
directa entre o preço e a qualidade do receptor, mas, como é
evidente,
um receptor de 10 Euros não apresenta a mesma qualidade que um
sintonizador de mesa bem mais caro. O que não significa que não
se
possa praticar DX com um receptor que tenha prestações muito
razoáveis:
um bom auto-rádio pode ser um bom começo. Igualmente, uma
aparelhagem
de som que tenha um bom sintonizador também poderá interessar ao
entusiasta pelo DX. Mesmo na rua é possível praticar DX,
contando que
tenhamos um leitor de áudio digital (vulgo leitor de mp3) ou
telemóvel,
por exemplo, que tenha uma aplicação rádio que não decepcione.
Em
qualquer dos casos, é aconselhável escolher um modelo com a
funcionalidade RDS, permitindo a rápida identificação da
emissora
escutada, contando que esta utilize tal sistema e consigamos
captar um
sinal suficientemente forte para que o nosso equipamento
descodifique
os dados transmitidos.
Outro aspecto a não menospreciar no
exercício da captação de estações fora dos limites geográficos
onde a
propagação normalmente se processa será a ponderação da
possibilidade
da aquisição de uma antena mais adequada para esta prática.
Sugiro a
leitura do artigo Como
melhorar
a recepção de rádio FM (87,5 ~ 108 MHz)
, onde apresento
as ideias gerais a respeito das antenas passíveis de serem
utilizadas.
Se bem que as antenas utilizadas para a recepção "normal"
também sirvam
para DX, a prática adoptada por muitos Dxistas conhecidos é
a que
costuma dar os melhores resultados:; eles costumam instalar
antenas
direccionais (Yagi) num mastro equipado com um rotor. Este
componente
(rotor) permite rodar o mastro (e por inerência, a antena
propriamente
dita) na direcção do sinal pretendido. Desta forma,
conseguem optimizar
a recepção em qualquer direcção, obtendo uma qualidade de
sinal
superior à obtida com uma instalação vulgar, enquanto, mercê
das
características das antenas direccionais, reduzem ou até
eliminam as
interferências originadas por outros emissores que operam na
mesma
frequência.
Convém ter em conta que a
opção da instalação de uma antena exterior com um rotor
pressupõe a
utilização de um receptor fixo, dentro de casa, que
tenha uma
tomada para antena exterior. Todavia, se por
qualquer razão não
for possível a instalação da antena no telhado ou noutro
ponto exterior
da casa, será sempre possível praticar DX com uma antena
interior. Se o
receptor tiver boa sensibilidade, os resultados serão, ainda
assim,
bastante razoáveis. Por outro lado, o leitor deste artigo
que pratica
DX fora de casa não deve desanimar: se utiliza o auto-rádio,
convém
verificar a antena do carro. Se a mesma não estiver nas
melhores
condições, ou se for muito curta, deve substituí-la. Se
utiliza um
rádio portátil (incluindo telemóveis, mp3, etc.), pode até
praticar DX
dentro de um edifício ou de um transporte público, por
exemplo,
contando que procura posicionar a antena telescópica ou o
fio dos
auscultadores próximo da janela. Esta última não é uma
solução tão boa
quanto as anteriores, mas se optar por um aparelho com boa
sensibilidade, os resultados poderão ser aceitáveis.
Por último, saliente-se que a maioria dos princípios
referidos não
se circunscrevem à faixa de radiodifusão VHF-FM, podendo ser
aplicados
na recepção de sinais de televisão terrestre analógica ou
digital, mas
também na captação de sinais VHF ou UHF de qualquer outra
natureza,
contando que se opte por uma antena adequada à(s)
frequência(s)
pretendida(s). Resumindo e concluindo, um bom receptor
ligado a uma
antena fraca não dará grandes resultados, assim como não se
poderá
esperar que uma antena faça milagres ligando-a a um receptor
com más
prestações técnicas. Note-se que a sensibilidade e a
selectividade são
os factores mais importantes a ter em conta na aquisição do
receptor,
mas existem outros (crosstalk,
rejeição de imagem, etc.) que não devem ser desprezados.