
Como
melhorar a recepção de rádio FM (87,5 ~108 MHz)
Não obstante o esforço das estações de
radiodifusão na melhoria das condições de emissão, existem sempre
situações onde alguns ouvintes continuam insatisfeitos com a qualidade
de recepção das suas rádios favoritas. Se as estações têm
responsabilidade directa na concepção e manutenção das respectivas
redes de emissores, também não é verdade que, a ter dificuldades de
recepção, o ouvinte também deve fazer um esforço para melhorar as
condições de escuta. Dado que existem sempre ouvintes que ainda não
investiram na melhoria da recepção, decidi escrever este artigo por
forma a motivá-los para esta temática.
Comecemos pelo óbvio: que tipo de receptor está a
utilizar? Naturalmente que um bom sintonizador de mesa ou um bom
auto-rádio apresentam melhores prestações que um rádio portátil.
Todavia, tenha um receptor de 50 ou de 500 Euros, saiba que
nenhum
receptor faz milagres. Há que ter em conta outros factores
importantes,
como as perturbações na propagação do sinal entre a antena emissora e
a
receptora, as próprias características técnicas da emissão e o tipo de
antena utilizado.
Problemas
de recepção em VHF-FM:
- Ruído estático e/ou
desvanecimento da emissão:
A presença de ruído estático na audição, podendo em certos casos
ser
acompanhada de algum desvanecimento do áudio, é, normalmente,
sintoma
de sinal fraco. Se utiliza um
rádio
portátil com antena telescópica,
estique a antena e coloque-o próximo de uma janela; se, ainda
assim, o
resultado não for satisfatório, percorra a casa em busca da
localização
que ofereça um sinal mais forte.
A
mesma sugestão é adaptável a adaptável a telemóveis com
aplicação de
rádio FM ou leitores de MP3, por exemplo. Ao encontrar a
localização mais favorável para o próprio receptor, está a
minimizar a atenuação do sinal provocada pela presença de
obstáculos
(paredes, etc.) dentro da sua casa. Por outro lado, se estiver a
usar o
equipamento dentro de um veículo (carro, comboio, etc.), é também
boa
ideia colocar o rádio próximo da janela, já que a própria
estrutura
metálica do chassis cria uma
gaiola
de Faraday
no interior da mesma.
Caso
disponha de um sintonizador de mesa, aparelhagem de som ou
equipamento
similar, tenha em atenção que, normalmente, estes receptores trazem
na
embalagem um pequeno fio a fazer de antena. Apesar de ser
suficiente em zonas de sinal forte, nos locais onde a recepção não é
tão cristalina, deverão ser encontradas alternativas. Admitindo que o
seu equipamento dispõe de uma tomada para antena FM, deve considerar a
aquisição de uma antena com melhores prestações. Consulte a secção "
Tipos de Antenas passíveis de serem utilizadas em
receptores de mesa" para mais informações.
- Distorção dos "S" e "Z" (sibilância):
Por vezes, surgem situações em que, apesar do sinal ser
razoável/forte,
a emissão sai distorcida, notando-se sobretudo uma sibilância nos "S"
e
nos "Z" pronunciados pelos locutores; este efeito é ainda mais
evidente
na passagem de música, mercê da maior exigência do ouvido humano na
fidelidade do som. Este fenómeno deve-se à reflexão das ondas de rádio
em obstáculos de dimensão considerável como os acidentes geográficos
ou
os produzidos pelo Homem (edifícios, etc.), causando a chamada
reflexão
multipercurso (também conhecida pela expressão inglesa "
multipath").
Descrevendo
de uma forma muito simples (e pouco correcta do ponto de
vista formal) a situação, a nossa antena recebe a emissão que vem
directamente do emissor; todavia, não é menos verdade que a mesma
antena está a receber, ao mesmo tempo, uma emissão atrasada
(resultante
da reflexão das ondas); estas duas emissões (em certos casos, até
mais,
consoante as características da reflexão) interferem-se mutuamente. Se
num vulgar rádio portátil pouco haverá a fazer excepto tentar
sintonizar a mesma estação noutra frequência (se emitir em mais do que
uma frequência para a região) ou orientar a antena telescópica na
melhor posição possível, num receptor de mesa pode-se melhorar
consideravelmente a situação instalando uma
antena
exterior
direccional apontada à emissão directamente recebida do
emissor ou à emissão reflectida (conforme a melhor situação).
Se o som da emissão tem um "assobio" contínuo de fundo, então a
estação
que pretendemos ouvir está a ser fortemente interferida por outra
situação que opera niuma frequência adjacente. Dependendo da
selectividade do receptor, este efeito pode ser mais ou menos
pronunciado. Assumindo não haver uma frequência alternativa que sirva
melhor o local de recepção, convém instalar uma
antena
exterior
altamente direccional,
judiciosamente apontada ao emissor pretendido. Em certas situações,
mormente se a estação interferente vier da mesma ou de uma direcção
muito próxima da qual onde existe o emissor pretendido, pode não ser
possível minimizar consideravelmente o ruído desagradável.
- Cliques, ruídos com tom
grave e outros sons não permanentes:
A presença de cliques, ruídos com tom grave e outros efeitos não
descritos anteriormente e que não são pernamentes, indicia a
existência
de interferência de natureza eléctrica. Dentro de casa, verifique a
instalação eléctrica e os equipamentos ligados (especialmente os
electrodomésticos com motores relativamente potentes como os
frigoríficos, aquecimento eléctrico, etc.).
Em última instância,
desligue a luz no quadro e verifique se o problema se mantém. Caso o
problema persista, tem a certeza que o problema não se encontra na sua
casa mas sim numa instalação eléctrica próxima (até um poste de
iluminação pública a funcionar de forma irregular pode incomodar na
escuta de rádio). Felizmente, a faixa VHF-FM é bem menos susceptível a
ruído natural e/ou eléctrico do que as faixas em modulação de
amplitude
(Onda Longa, Média e Curta); todavia, se o ruído apresenra uma
intensidade elevada, não há milagres...
Tipos de Antenas passíveis de serem
utilizadas em receptores de mesa:
Existem dois tipos principais de antenas: as interiores (utilizadas dentro de
casa) e as exteriores
(montadas no exterior da habitação). Dentro de destes tipos, podemos
subvidividir as antenas em direccionais
(recebem bem os sinais oriundos de determinada direcção) e omnidireccionais
(recebem sinais de
todas as direcções). As antenas direccionais são especialmente úteis
em
locais onde as estações pretendidas são fortemente prejudicadas por
interferências originadas por outros emissores a operar em
frequências
iguais ou adjacentes às que queremos escutar ou provocadas pela
reflexão das ondas electromagnéticas em obstáculos. Uma antena
direccional deve ser apontada na direcção do emissor que pretendemos
receber, captando bem as respectivas emissões, ao passo que capta
mal
as emissões provenientes de emissores situados noutras direcções.
- Antenas interiores
(omnidireccionais): se o sinal é fraco a razoável,
considere o
recurso a uma antena interior melhor. A mais comum será a antena
de
fita, constituída por um dipolo dobrado que forma um "T" com a
fita de
ligação ao receptor (ver figuras):


Antena de fita enrolada (figura da esquerda) e
esticada em forma de "T" (à direita).
Outra opção dentro do campo das antenas interiores será a utilização
de
uma antena interior amplificada para TV que indique explicitamente ser
adequada também para FM (ver figura seguinte). Tendo a vantagem da
amplificação do sinal, também apresentam o inconveniente associado de
por vezes provocar a saturação de RF à entrada do receptor, situação
que provoca distorção no áudio e ruídos que podem ser minimizados
reduzindo a amplificação (rodando o botão correspondente na antena).
Antena interior amplificada para FM e TV
- Antenas exteriores: Nos
locais onde o sinal é de tal forma fraco que uma antena interior
não
resolve o problema, resta ponderar a hipótese de adquirir uma
antena
exterior. Como o próprio nome indica, as antenas exteriores devem
ser
montadas no exterior da casa, de forma idêntica às antenas de
televisão. Assim, a antena deve ser colocada num mastro, que
deve
estar montada no telhado (ou outro local elevado do edifício), de
forma
a reduzir o número de obstáculos que atenuam o sinal.
- Antenas exteriores
omnidireccionais: Fáceis de encontrar no mercado
português. As
mais comuns são as antenas popularmente designadas de
"ferradura" (ver
figura abaixo), mas existem outros modelos menos
conhecidos. Não
tendo um ganho muito forte, recebem de forma igual os sinais
oriundos
de quase todas as direcções, sendo aconselhadas para locais onde
o
sinal pretendido é razoável/bom.
Antena omnidireccional para FM (tipo "ferradura")
- Antenas
exteriores
direccionais: Não sendo tão conhecidas em Portugal
(ao nível da rádio FM), existem vários tipos de antenas
adequadas para
a faixa 87,5~108 MHz. A mais conhecida e mais utilizada será,
sem
dúvida, a
Yagi-Uda
(ou, mais simplesmente, antena Yagi). Altamente direccional
(dependendo
do número de elementos), tem uma ganho elevado, o que constitui
um
factor importante para a recepção de sinais muito fracos.
Infelizmente,
muitos vendedores em Portugal são capazes de vender antenas para
a
banda I de VHF (televisão) argumentando serem adequadas também
para FM
- o que, em parte é verdade, mas apenas nas frequências mais
baixas da
faixa de radiodifusão). Assim, para o leitor deste artigo que
esteja
interessado em adquirir este tipo de antena, aconselho-o a
certificar-se que adquire uma antena construída especificamente
para a
faixa 87,5 ~108 MHz.
Quer compremos uma antena, quer
construamos
a nossa própria, não
devemos menosprezar um factor importante: a
impedância
à saída da mesma. Dito de uma forma muito pouco rigorosa (do ponto de
vista científico), a impedância (Z) é a resistência eléctrica medida,
neste caso, no cabo coaxial que "sai" da antena para o receptor. Uma
antena Yagi tem uma impedância teórica de 300 ohm. As entradas de
antena de muitos receptores dispõem de uma impedância de 75 ohm, daí a
necessidade de se alterar esta grandeza física, utilizando um
transformador
de impedância,
uma "caixa" pequena que se encontra facilmente nas lojas de
electrónica. Ao adquirir este disponitivo, convém certificar-se que
este é de 300 para 75 ohm, já que existem no mercado transformadores
de
Z concebidos para outras finalidades.
Transformador de impedância, com entrada a 300 ohm e saída a 75 ohm.
Se, apesar da utilização de uma antena exterior, o sinal pretendido
continuar fraco, é possível tentar melhorar a situação recorrendo a um
amplificador de sinal adequado
à
faixa 87,5 ~108 MHz. Todavia,
recomenda-se precaução
no uso deste tipo de equipamento electrónico, pois um amplificador vai
inevitavelmente aumentar não só o sinal como também o ruído, podendo
(se as dificuldades de recepção não resultarem apenas da insuficiência
de sinal mas tiverem também origem em fenómenos de reflexão de ondas
ou
de interferências provenientes de outras emissões) agudizar a
situação.
Por conseguinte,
a opção pelo
amplificador deverá ser das últimas, se não a última a considerar
esgotadas as restantes hipóteses, pois se a relação
sinal/ruído
for baixa, o amplificador poderá, como foi referido, prejudicar ainda
mais a qualidade do sinal.
No caso de pretender beneficiar das vantagens de uma antena
direccional
mas desejar receber vários emissores situados em localizações
diferentes, considere a possibilidade de adquirir um
rotor,
dispositivo que permite rodar a antena de forma automática, permitindo
orientá-la na direcção do emissor a ser sintonizado. Quando o ouvinte
quiser mudar de estação de rádio, bastará rodar a antena novamente.
Alternativa:
construção artesanal de uma antena
Uma
alternativa à aquisição de uma antena existente no mercado será a
construção artesanal. De
facto, construir a sua própria antena não é apenas um bom passatempo
como também é uma actividade didáctica onde se aprende algumas
questões
técnicas inerentes ao próprio funcionamento da antena. Especialmente
se o leitor deste artigo dominar o inglês, existem na Internet
artigos técnicos úteis respeitantes a esta temática. Um bom exemplo é uma antena interior do tipo Moxon, relativamente direccional, cujas instruções de construção podem ser lidas no artigo
"
Making
an Indoor FM Moxon Antenna".