Coloco aqui, neste tópico, porque me parece ser o mais adequado face àquilo que está em causa, o plano do governo para a CS, já não só para a RTP, DAB+, etc., esta reflexão bastante pertinente da investigadora e professora universitária Raquel Varela publicada na sua página pessoal na rede social facebook à poucos minutos, na qual ela levanta questões bastante relevantes face àquilo que foi exposto pelo Governo...
"Montenegro anunciou a descapitalização da RTP, e o financiamento aos media privados. Agora a comunicação será empresarial, mas paga por nós, o sonho do PSD. Além dos profissionais dos jornais e televisões privados serem dependentes da empresa privada, serão pagos pelo Estado para trabalhar nessa empresa privada...
Não há qualquer forma de chamar jornalismo a isto. Jornalismo por definição é esfera pública. Assim nasceu. Pode chamar-se comunicação da empresa tal, do Partido tal, do governo x.
Jornalismo não pode, porque o jornalismo nasce como projecto iluminista - ousar saber - contra o Poder, em defesa do público (não em defesa do Estado, nem do mercado, em defesa do bem comum, público, essa é a sua origem e sentido de existência). Estado e público não são o mesmo.
Não há nenhum défice democrático que tal medida do PSD possa colmatar. Há um défice financeiro de jornais, cheios de dívidas, que nós, o nosso salário, é chamado a pagar de forma ignóbil nesta proposta do PSD (apoiada por outros partidos?!)
Esta medida significa um gasto público e menos democracia, menos saber. Mais subvenções privadas. E ainda mais pressão sobre os seus profissionais. Ler e reler as obras da jornalista Sylvia Moretzsohn da Uni do Minho, sobre isto. Pagaremos agora, todos nós, jornais que são projectos políticos, privados, como todos os jornais, lembra Moretzsohn, nenhum é isento, tal coisa não existe.
O Correio da Manhã e a Sábado e o Observador apoiam o CDS, a IL e o Chega, o Expresso o PSD, o Público oscila entre o PS e o PSD e por aí fora. Todos os órgãos de comunicação contém em si um projecto politico, é legítimo, projecto que defende o seu interesse particular (parte, partido) na sociedade. Têm uma linha editorial que não é nem nunca foi a defesa do bem púbico, comum. São escolhas, não podem fazer-nos pagar isso.
Os impostos são para o bem comum. Não podemos aceitar financiar jornais privados, que são sistematicamente usados para defender interesses de empresas e partidos contra os funcionários públicos, o SNS, a educação pública, o trabalho com direitos, a paz. Quem quer ter projectos privados paga do seu bolso.
Para quem não ouviu o discurso, obsceno para a democracia, atestado de infantilidade a todos nós, Montenegro disse - cito- que “todos os órgãos de comunicação fazem serviço público”, que devem ser protegidos da “selvajaria” do mercado e “que as redes sociais são inimigas da democracia”".