Custa a acreditar que o RCP tenha mesmo sido parido a 100% pela PRISA...
Aquilo tinha pouco a ver com a Cadena SER...
É fácil dizer que foi a Prisa, quando os responsáveis da PRISA não vão ouvir este podcast e dificilmente haverá ecos dele em Madrid...
Se o RCP de palavra foi mesmo da responsabilidade da PRISA mais valia terem estado quietos e deixado estar o que estava...
Aquilo era muito mau...
Apesar do Adelino Faria e Aurélio Gomes.
Só quem se alheava da realidade portuguesa em 2007 pode dizer o que o Atento disse. Há aqui todo um enquadramento local e político que me parece bastante claro e que até me está a espantar como é que ao Atento lhe escapou.
O RCP era um projeto de grande informação que era detido pela PRISA mas, obviamente, jamais poderia ter a ver a 100% com a Cadena SER por cá dada a enorme dimensão e implementação da SER serem inviáveis à escala nacional quer pela rede, que era uma amálgama de locais e a RRS, quer pela realidade nacional. Não se deve esquecer que esta época foi o grande surgimento e estabilização das rádios com playlist e do emagrecimento de várias estruturas e... que era a MCR, digamos. Mas a estrutura do RCP devia ser boa, tanto que mesmo quando oficiosamente acabou (Junho), já abaixo dos 2 pontos de audiência, ainda tinha 40 profissionais por lá.
O erro fatal da situação foi ter sido o Luís Osório quem foi para lá. Mas faz sentido, se pensarmos bem: a PRISA tinha ligações (bastantes) ao homólogo do PS em Espanha, o PSOE. Se dominassem esse mercado, dominavam a agenda informativa por arrasto, e isso criava condições para um certo prosseguir político das questões, até em ligação ao PS nacional, mais a mais com maioria absoluta à época. Foi a época do "sufoco jornalístico", tantas vezes falado e reforçado nessa época, por parte da máquina mediática desse partido.
Ao irem buscar o Luís Osório - que na altura ainda não tinha "borrado a pintura" e tinha um currículo com provas que se consideravam dadas - foram tentar fazer o 2 em 1 de ir buscar um diretor que procuravam ter profundidade e competência e ao mesmo tempo próximo ao PS como sempre foi e insiste em fazer passar em antena.
O problema é que o resultado foi desastroso porque com poder na mão a sério pela 1ª vez, o Luís Osório passou todo o seu lirismo para a antena. E depois tivemos coisas inacreditáveis, como jornais que falavam de matar porcos no Médio Oriente e a reação dos agricultores portugueses, ou o Professor Bambo e pessoas que acreditam em OVNIs a ser entrevistados à plena luz do dia, ou as dezenas de falhas técnicas nas transições que demoraram a ser resolvidas (uma pálida tentativa de emular localmente a SER), ou a grelha que a espaços era caótica apesar dos excelentes âncoras que tinha.
Essa sim, é a falha do RCP. A música era boa, o conteúdo ia do relevante ao execrável. Como quem planeia conteúdos é o programador com o diretor de antena, a culpa é mesmo do Osório.
P Bigodes faz uma analise certa.
No fundo Tojal, queria combater a RFM com perfil semelhante e deixou cair o " Radio Rock", o RCP era para enfrentar a RR, muito na onda da musica que a Catolica passava, a Best Rock para lutar com a Mega, que na altura era " Mega FM, a rádio do Novo Rock"...
Mas os resultados não foram os pretendidos.
Tojal não durou muito no cargo...
O que mais se leu nesta altura é que Tojal era um bom locutor mas um péssimo gestor. Anos a fio se criticou este tema. E aliás viu-se, tanto que o último projeto que fez com a Fi FM foi o que foi. Na MCR o que acontecia é que era assessorado pelos tais consultores, o que apesar de tudo pelos vistos possibilitou alguma consistência.
O Pedro Ribeiro já fez por mais que uma vez críticas ao Pedro Tojal e à condução. Claro que não será naturalmente a isso alheio ter sido a altura em que foi relegado para a Best Rock, não se questiona, mas a árvore não se confunde com a floresta e a crítica dele, a meu ver muito justa, foi mesmo essa. Considerou uma loucura querer combater a concorrência com a lógica da concorrência. (Se não estou em erro acho que ele falou qualquer coisa disso no vídeo dos 40 anos da Comercial, mas posso estar errado).
O RCP versão 1 (da MCR) combatia uma RR em fase descendente, convém não esquecer. Foi-se bater marca histórica com marca histórica para tentar captar do lado da audiência de uma RR em profunda alteração e com uma forte debandada de audiência, uma marca depauperada à vista da população em idade ativa, um forte cunho ainda de rejeição pelo elemento católico proeminente e um público envelhecido, embora o RCP versão 1 se destinasse, creio eu, a captar também públicos mais novos, penso que dos 45 para cima. É nesse contexto que o RCP surge.
Não foi dado grande tempo para o RCP como estação crescer, na minha opinião, possivelmente pelas mudanças sucessivas de acionistas na MCR, porque para aquilo que depois foi a RR... o RCP teria sido melhor produto. E não fosse a quebra em 2007 e a renovação da RR pós-Rui Pêgo e talvez a estação não tivesse podido segurar os 6%-7% que foi segurando. Beneficiou-se com isso, penso eu.
Quanto à Best Rock, não são comparáveis a Mega e a Best. A Mega FM com o claim "A Tua Música, O Novo Rock" parecia a espaços uma cópia da RFM... E não havia nada para combater, tanto que a Mega durante os anos que precederam a passagem a Mega Hits andou geoestacionada pelos 1/2 pontos de audiência. A Best Rock tinha um pendor muito mais rock e era, como ouvimos, a continuidade da Comercial Rádio Rock (embora a partir ali de 2005/6 essa continuidade perdeu-se muito na música em antena).
Sem dúvida tenho a percepção de que a RFM ainda se manteve na liderança em algumas regiões até já depois da chegada ao 1º lugar da RC à custa de ter alguns clássicos muito bem misturados com música nova, agora como disseram no podcast a ideia foi fazer diferente.
Agora arrisco a dizer que se a Star FM não tivesse corrido tão mal, provavelmente ainda hoje teríamos uma rádio de música dos anos 60, 70 e já a entrar nos 80 a complementar a própria M80 que podia estar com menos pressão e ser mais abrangente.
O problema na minha opinião com as rádios de oldies foi que ambas foram demasiado diferentes e só havia mesmo espaço para uma...
A Star FM era demasiado anglo-saxónica num contexto em que o público que a podia ouvir tinha sido primariamente influenciado por música portuguesa e francófona (há um domínio cultural da França por cá até aos anos 70/80, convém não esquecer, agravado pelo efeito Linda de Suza). A animação era péssima e era só para marcar ponto praticamente. Ora isto não liga nenhum ouvinte destas idades, habituado a uma certa forma de coisas, a uma estação.
A Rádio Sim era por sua vez excessivamente portuguesa e clássica e faltava-lhe bastante a componente de música internacional. A animação era muito boa, ao melhor estilo da velha escola, e a programação muito mais rica que a Star. Mas a relativa falta da música internacional na minha opinião complicou, em conjunto com a rede que era completamente retalhada em AM e FM e a fraca qualidade de som em Braga e Leiria, por exemplo.
Em particular no caso da península de Setúbal, houve um grande divórcio com os 102.2 à época porque a Pal FM era uma local respeitada, relevante no distrito, com muito boa captação, com gente dentro e boa música, e depois quando surge a Rádio Sim mantém-se a animação mas a música "não tem interesse nenhum", como ouvia dizer à época. Se se tivesse enveredado por algo mais maduro com mais música internacional teria retido muito do público que vinha da Pal, mas a verdade é que muito desse nunca mais o veio a recuperar.
Se se tivessem fundido ambas numa só e se lhes tivesse aplicado a lógica de uma rádio de AC assim bem, bem madura, acho que a Sim tinha feito mais do que fez. Porque a única que algum dia teve hipóteses foi mesmo a Sim. Agora... é tarde. Até porque esse mercado tem pouco interesse do ponto de vista comercial, a avaliar pelo que a RR andou a fazer estes anos todos a "corromper" a imagem original da estação e a rejuvenescer o público. Está nas locais que o abordam o que resta, talvez...