O
presente artigo é destinado sobretudos ao entusiastas da recepção de
emissões de radiodifusão na faixa VHF-FM (87,6~108 MHz), ainda que a
maior parte das informações aqui disponibilizadas seja facilmente
adaptável às emissões de amador nas faixas VHF/UHF, na banda aérea
VHF
e noutras comunicações nas faixas VHF, UHF e, porventura, em
determinadas circunstâncias, noutras faixas do espectro..
Regra geral, a propagação das ondas
electromagnéticas na faixa VHF (onde se inclui a faixa de
radiodifusão
em frequência modulada), é feita em linha de vista, isto é, as ondas
"viajam" da antena emissora até à antena receptora num percurso
directo, em linha recta, não conseguindo, em condições normais
de
propagação (
não
estamos a falar de DX), atingir distâncias muito
elevadas. Todavia, em determinadas circunstâncias, as ondas podem
propagar-se de uma forma não esperada, atingindo uma região que, em
teoria, não teria condições de recepção minimamente satisfatórias.
Um
dos principais efeitos que podem ocorrer em zonas montanhosas é o
chamado efeito "fio de navalha".
Fio
de navalha?
Para melhor
descrever o fenómeno, considere-se a seguinte figura:
Consideremos uma situação em que entre a
antena
emissora e o equipamento de recepção existe uma montanha com
uma
proeminência elevada. Devido ao
Princípio de Huygens-Fresnel,
proposto no século XVII, em determinadas circunstâncias, é
possível que
as ondas electromagnéticas que atingem o topo da montanha
sofram uma difracção,
sendo refractadas para baixo, Este efeito, designado por
efeito "fio de navalha" (em inglês: "knife-edge
effect")
ou ganho por obstáculo, tende a aumentar à medida que o topo
de uma
montanha se assemelha mais à ponta de uma navalha ou de uma
faca,
consistindo num vértice muito acentuado (daí o nome do
efeito).
Dependendo da orografia e de outros factores, o sinal
refractado pela
montanha pode atingir mais de 100 km. Note-se que, como já foi
referido, estamos a falar de um fenómeno de propagação em
circunstâncias "normais", leia-se, sem a presença de fenómenos
atmosféricos que propiciem o DX.
Todavia, é possível que o efeito "fio
de navalha" se alie à condução troposférica ou a outros
efeitos que
facilitem a propagação a uma distância elevada, permitindo o
DX de um
determinado emissor que, noutras circunstâncias, muito
dificilmente
seria captável numa determinada região, mercê da barreira à
propagação
dos sinais imposta pelo terreno acidentado.
Efeito
"fio de navalha" em Portugal
Algumas
situações em Portugal em que este fenómeno ocorre:
- O emissor principal do Rádio Clube de Monsanto (98,7 MHz
Idanha-a-Nova) é audível em certas zonas dos concelhos de
Mangualde e
Gouveia, não obstante a presença da Serra da Estrela entre
as duas
regiões.
- O emissor de Almodôvar da Antena Sul (90,4 MHz), situado
no Pico
do Mu, segundo ponto mais alto da Serra do Caldeirão,
ouve-se em
Portimão, apesar da existência de acidentes geográficos
pertencentes à
Serra do Caldeirão e à Serra de Monchique entre o Pico do
Mu e a cidade
de Portimão.