“Radiofilo”, como rádio é feita de som, julgo que também será um audiófilo. Audiófilo é a pessoa que presta atenção à fidelidade da reprodução do som, com todos os detalhes e nuances que permitem reconstruir a realidade, ou seja, recriar com total fidelidade o ambiente onde foi registado o som, quer seja numa orquestra, concerto ao vivo, gravação de estúdio, locução de um radialista, etc. A Onda Média não tem fidelidade de áudio, o som é comprido, como uma chamada telefónica analógica, portanto são omitidas frequências áudio de graves e agudos, não há o efeito espacial da estereofonia, as emissões são sujeitas a todo o tipo de interferências eletrostáticas (eletrodomésticos, motores, descargas elétricas, etc.), portanto, é uma tecnologia obsoleta, ultrapassada e bastante limitada na qualidade do áudio.
Há cerca de 1 século, surge o FM para dar resposta às limitações do AM, nomeadamente na melhoria da qualidade do som e maior imunidade às interferências. O efeito espacial do som, ou seja, estereofonia apenas foi introduzido em 1961. No entanto, trata-se de uma tecnologia do passado, com limitações no áudio, definido até 15 kHz, ou seja, nos agudos, quando a audição humana vai até aos 20 kHz. Portanto, fidelidade total no áudio em FM não existe. O aproveitamento do espetro é outro problema, quando aumentaram o número de operadores. Cada emissão corresponde a uma frequência e cada frequência corresponde a 1 emissor. O DAB+ permite uma muito melhor gestão do espetro radioelétrico, porque uma frequência suporta várias emissões distintas, portanto, consequência positivas ao nível económico e ambiental, consubstanciado num menor consumo de energia. O DAB+ está especificado para uma resposta áudio que vai dos 20 Hz ~ 20 kHz, ou seja, toda a extensão da audição humana e tem maior imunidade a interferências que o FM.
O DAB+ foi desenvolvido na Europa, é um padrão de difusão europeu, ao qual quase todos os países deste espaço comum aderiram. Espanha é o próximo a encarar esta tecnologia a sério. Oxalá que os sinais cheguem até Portugal, a banda está vazia no nosso país, pode ser “navegada” à vontade, sem nenhum obstáculo. Os diferentes países deste bloco mundial implementam esta tecnologia, de forma planeada e faseada, a projetar a rádio do século XXI, é uma estratégia para o longo prazo, não um epifenómeno localizado. Portugal continua no velho FM que ainda por cima é condicionado por leis medievais, que não salvaguardam os interesses dos ouvintes, nem dos operadores.
Para terminar, não é nenhuma novidade existirem vários padrões de difusão distintos em diferentes blocos do mundo. Na televisão, tinha o padrão de difusão PAL para alguns países europeus, o SECAM para França e o NSTC para os Estados Unidos e Japão. Se levasse uma televisão de Portugal para França, via as emissões francesas a preto e branco, se levasse uma televisão de Portugal para os EUA não via nada, os formatos eram incompatíveis. Mesmo dentro do PAL, haviam especificações diferentes, se levasse uma televisão de Portugal (PAL B/G) para o Reino Unido (PAL I), ou sintonizava a imagem ou sintonizava o som, não os dois em simultâneo.
O DAB+ é um padrão europeu, para a Europa. Como Europeu, não quero saber dos outros blocos do mundo, estou interessado no que se faz neste espaço comum. Os autorrádios têm integrados de série recetores DAB+ que, em Portugal, não servem para nada. Estamos, nesta matéria, orgulhosamente sós e desligados da restante Europa, a começar por Espanha.