E porque é que uma rádio de palavra tem de baixar nas audiências?
Porque se for bem feita, não vai atrair tantos ouvintes quanto um modelo como o que tem a Antena 1 hoje, com muita música a metro. Tem muito que ver com os níveis de escolaridade da nossa população.
Os programas da Antena1 mais visitados nas plataformas digitais são todos de palavra.
Uma rádio de palavra bem feita como a France Inter, COPE, SER, ou BBC 4, sem os complexos bastardos e os ativismos dos Desprevedores, tem tudo para dar certo.
Certo. Mas percebo bem o argumento do pdnf. Não querendo insultar o nosso povo, até porque temos qualidades intrínsecas que nos fazem destacar no Mundo nas mais variadas áreas, a literacia não só académica, mas financeira, política e artística não são o nosso forte.
Creio que em Espanha, os problemas ultrapassam ainda a nossa realidade. As rádios de palavra lá são o prato forte, mas creio que mormente são «palavras levadas pelo vento», sinceramente. E não só na RNE, mas também numa SER, COPE ou Onda Cero.
Sobre o facto dos programas de palavra serem os mais escutados em podcast, não nos podemos esquecer de dois factores importantes:
- Os programas musicais a pedido só estão disponíveis na RTP Play por uma questão de direitos de autor;
- As pessoas tendencialmente não procuram nas plataformas de áudio programas lineares de música. Para isso, o Spotify faz-me a papinha de escolher aquilo que o seu algorítimo pensa que eu quero ouvir. O público, nessas plataformas, procura incessantemente podcasts.
Se reitirarmos os hábitos de consumo dos mais jovens (15-24 anos), os quais procuram linguagens mais simples e extremamente informais (alguns, vazios de conteúdo), as franjas mais adultas procuram podcasts com maior qualidade sonora e de temáticas. E nisso, apesar de termos excelentes podcasts independentes pelo mundo fora, a rádio de palavra continua a ser charneira nessas duas vertentes.
Como disse várias vezes aqui no fórum, não costumo consumir a Rádio Comercial em directo, mas gosto bastante de alguns podcasts deles.
Tal como procuro em diferido alguns espaços da Rádio Observador (os Podcast Plus são claramente de serviço público) ou o Estado do Sítio e a Visão de Jogo da TSF e o Jogo de Palavra e as Novas Crónicas da Idade Mídia da Rádio Renascença.
Só tento, sempre que possível, escutar em directo os Radicais Livres e a Visão Global da Antena 1 ou a Prova Oral da Antena 3 pois devem ser os meus programas de palavra de eleição.
Isto não é o futuro da rádio de palavra, mas sim o presente!
Por fim, como cidadão e contribuinte (tal como todos nós), serei sempre um defensor de qualquer serviço público que se quer eficiente.
E dou exemplos: o já referido por mim Visão Global não é um mero programa de geopolítica. Aborda o Lado B das notícias!
Nos dias d'hoje, somos autenticamente bombardeados por paineleiros, de todos os quadrantes, que vaticinam as suas narrativas nas televisões, ou por influencers patrocionados por movimentos (alguns de cariz «bem duvidoso»).
O último Visão Global, por exemplo, noticiou a atribuição do Prémio Gulbenkian para a Humanidade aos «três pioneiros da agricultura sustentável, pela sua contribuição para a segurança alimentar, a resiliência climática e a proteção dos ecossistemas a nível global: o programa Andhra Pradesh Community Managed Natural Farming (Índia), o Professor Rattan Lal (EUA/Índia) e a plataforma de ONG’s SEKEM (Egipto)».
Sem falar das autênticas chapadas de luva branca que são as Estórias da Semana da Alice Vilaça.
Não escuta ou assiste a isto em mais lado nenhum! E isto não é ser de nicho... é serviço público!
Se acha que o que deve ser feito é concessionar o serviço público às postas como proposto no passado sob o mote das fracas audiências, não só não concordo, como prefiro que a A1 e a A3 continuem a ter audiências baixas do que recorrer ao facilitismo!
São inocentes ou alguns são maliciosos pensarem que sem uma RTP, os privados irão cumprir estes requisitos que agora falei.
E, por fim, como este tópico é sobre a Antena 3, a minha geração tem como obrigação procurar conteúdos como o da Mariana Oliveira.
Este têm é que ser «sexy» para quem anda «a navegar na Internet».