Temos de ter noção que em termos de €€€, as coisas não estão fáceis para os órgãos de comunicação social.
É de conhecimento público as dificuldades neste meio, mas mesmo assim há quem não queira entender.
Quem faz rádio, sobretudo relatos de futebol ou jornalismo de desporto, gostaria obviamente de fazer muito mais.
Mas financeiramente as coisas estão difíceis.
É vermos a quantidade de rádios que hoje preferem fazer um relato pela televisão, ao invés de estar no local.
E contra mim falo.
Falando por mim e pelos meus colegas, gostávamos de fazer mais e melhor.
Não é possível.
Sabem quantas pessoas que colaboram com rádios, trabalham noutro tipo de profissões, por não existir oportunidade de emprego a tempo inteiro nos órgãos de comunicação social?
Até nas rádios nacionais há n casos, que creio ser de conhecimento público alguns deles.
E se nos órgãos de comunicação nacionais estamos assim, nem queiram imaginar nos órgãos de comunicação regionais/locais.
Os clubes têm direito de reclamar.
Eu entendo o lado dos clubes.
Com os horários dos jogos da Liga, já aconteceu-me por algumas ocasiões ter que sair à pressa do estádio, para ir para o meu emprego, para não chegar atrasado.
Enquanto não se conseguir perceber num plano mais profundo o que leva os órgãos de comunicação social em Portugal a terem tantas dificuldades financeiras, podem reclamar sim, mas não devem apontar dedos.
Sobretudo aos jornalistas que muitas vezes fazem os possíveis e os impossíveis, mesmo sem ninguém sonhar.
Simples.
Está o relatador em estúdio a relatar o Braga.
Já não são precisas viagens, deslocações, etc etc.
Se a RR e a TSF relatam os jogos dos grandes lá fora via tv, porque não relatam o Braga via TV atendendo a todas essas circunstancias?
Só não relatam porque não querem.
A Rádio Portuense relata o Porto e o Boavista e sabe quento ganham por isso?
Nada. Amor à rádio.
Sabia disso?
Por isso, não me venha com tretas de custos. Não relatam porque não querem.
Para mim, rádio é estar no local.
Não podemos criticar por exemplo um órgão de comunicação social por estar sediado em Lisboa, e quase não ter colaboradores a norte, e depois defendermos os relatos via TV.
Aí perdemos a coerência.
Mas neste tópico em questão, falamos das reclamações do Sporting de Braga, como há uns dias lia a reclamação do meu amigo Tiago Cunha do Moreirense.
Se as rádios fizerem relatos pela TV, e não mandarem ninguém aos estádios, como podem depois estar representadas nas conferências de imprensa pós-jogo?
É impossível.
As rádios continuam a fazer o seu trabalho.
Independentemente de ser no estádio ou pela TV.
Se gostávamos todos que as principais rádios marcassem presença em todos os estádios?
É lógico e óbvio que sim.
Mas não podemos esquecer que grande parte das rádios que acompanham a primeira liga são rádios generalistas, e que para além de não poderem dedicar toda a programação ao desporto, por motivos óbvios, também não podem gastar muito dinheiro, quando acredito que muito possivelmente só têm retorno financeiro e de audiências com 3 clubes (em relação a isto, falo sem conhecimento de causa, confesso).
E quando falo no facto das rádios não poderem gastar muito dinheiro, é necessário entender que há grupos de rádios neste país a começar a entrar em colapso financeiro (e mais não posso dizer).
Eu vivi em Espanha um mês.
Achei extraordinário existir 5 rádios nacionais com tardes desportivas desde da hora de almoço até quase de madrugada, ao sábado e ao domingo.
Mas que peso as regiões têm para Espanha?
E que peso têm as regiões para o nosso país?
Será que é rentável em termos financeiros para as rádios seguir o modelo espanhol?
À exceção dos adeptos dos clubes, quem é que está assim tão interessado em ouvir um relato de um Paços de Ferreira vs Casa Pia, ou de um Marítimo vs Gil Vicente?
Vivemos num país teso.
Uma vez fui ao Dragão relatar um jogo das competições europeias contra uma equipa espanhola, e estavam as 5 rádios que mais acompanham desporto em Espanha presentes no Dragão.
Quando uma equipa portuguesa vai a Espanha (e não estamos a falar de uma deslocação tão longa quanto isso), muitas vezes só vai a rádio pública.
Eu posso estar aqui a gastar mais caracteres a tentar explicar o porquê deste tipo de situações, como esta que o Sporting de Braga reclama, realmente acontecerem no nosso país.
Mas creio que basta abrirmos os olhos ao contexto rádio, e facilmente entendemos o porquê de não se fazer mais.
Ninguem está a falar do Casa Pia. Estamos a falar do Sp de Braga.
O clube que representa Portugal na Liga Europa e que está em segundo no campeonato e que desde há muitos anos, está sempre no topo da classificação.
Essa mentalidade a tentar justificar a ostracização do Braga em prol dos clubes do costume mostra bem como somos um país provinciano. Se calhar você também apoia o clube da terra dos outros em vez do clube da sua terra. Onde está a coerencia de se apoiar o clube da terra dos outros?
Apenas dei uma visão mais por dentro do que se passa em termos radiofónicos neste país.
Repito:
Não há falta de vontade para fazer as coisas. Há sim, falta do básico, até porque são poucos os que vivem verdadeiramente da rádio neste país (o que suporta a rádio neste país, são sobretudo os colaboradores que as mesmas têm, e que são pagos à peça).
Vai voltar a falar-me da Rádio Portuense, já sei.
Fazem um excelente trabalho em prol da cidade.
Conheço muito bem as pessoas ligadas ao projeto, até nutro uma amizade e um respeito por elas, e por aquilo que dedicam à rádio.
Mas falamos de uma web-rádio.
E quer queiram, quer não, não há comparação possível entre os custos de manutenção de uma web-rádio, e custos de manutenção de uma rádio que emite em frequência modulada.
Por exemplo, as rádios que emitem em frequência modulada têm a obrigação de passar 3 blocos noticiosos por dia, as web-rádios não têm essa obrigação.
Uma licença de uma web-rádio na ERC não chega sequer à centena de euros, de uma frequência modulada a renovação do alvará creio que não é nada barata.
Não há comparação possível.
E depois podemos defender os relatos pela TV, e ao mesmo tempo criticarmos a Rádio Observador por supostamente não ter repórteres a norte (quando até os tem) e por não ter estúdios na região.
A pessoa que começa com este tópico, ataca a imprensa por não ir a uma conferência de imprensa do 2° classificado do campeonato (é legítima a crítica).
Depois defende os relatos pela TV.
Uma rádio que faça relatos pela TV, não consegue marcar presença nas conferências de imprensa, porque não existe vídeoconferência nos jogos do campeonato, como alguns clubes ainda chegaram a fazer no tempo da pandemia.
Desculpe a minha interpretação e a minha opinião, mas não há qualquer tipo de coerência no seu discurso.
E para finalizar:
Em termos de regiões, eu sei muito bem como está o país atualmente.
Sou algarvio, vivi no Porto durante 3 anos, estudei 1 ano e meio no Minho, mais um em Trás-os-Montes, tenho família no Alentejo, e tive ligações afetivas ao arquipélago da Madeira.
Conheço extremamente bem este país de norte a sul.
Sou defensor do regionalismo.
Mas não podemos comparar regiões.
Por exemplo, custa-me muito mais ver uma rádio do norte a fazer relatos pela TV, que uma rádio de qualquer outra região, até porque a maioria dos clubes do nosso campeonato estão a norte.
A Emissora das Beiras de Tondela, e a Rádio Alvor de Portimão, fazem praticamente todos os relatos no estádio.
Sabe quanto é que a Rádio Alvor gasta em deslocações?
Sabe que marcas fazem patrocínio nas rádios algarvias?
Mas possivelmente saberá que marcas patrocinam as rádios da região norte, nomeadamente do Minho?
As rádios locais passam por dificuldades de norte a sul.
Mas as rádios algarvias não têm marcas fortes a patrocinar as mesmas e a região vive somente de 3 meses (é assim também em termos comerciais nas rádios do Algarve), ao passo que as rádios da região norte têm quase sempre uma ou outra marca de peso a patrocinar, já para não falar que quase toda a indústria deste país encontra-se a norte.
Se olharmos para uma tabela de publicidade de uma rádio local do norte, e para uma tabela de publicidade de uma rádio local do Algarve, percebemos o diferencial que existe nos preços praticados.
As rádios têm que se adaptar às regiões a que estão inseridas.
Para finalizar, é óbvio que por motivos lógicos e deontológicos, eu não lhe vou dizer o qual é o meu clube, mas também nunca escondi de ninguém.
Quem me conhece, sabe o meu clube.
Mas dando-lhe uma pista, deixe-me responder à sua provocação:
Quando estudava em Trás-os-Montes, ia para o café ver jogos do clube da minha terra, com o cachecol ao pescoço.
O clube da minha terra era o único que me fazia levantar da cama a uma segunda feira à noite, muitas vezes com temperaturas negativas, para ir para o café vê-lo.
Está a ver como muitas vezes atiramos coisas para o ar, sem termos conhecimento das mesmas?
E quando não sabemos, para não nos arriscarmos a dizer coisas sem nexo, o melhor é cingirmo-nos ao silêncio.