Tudo o que não seja o início de rádios regionais/distritais no continente, e a introdução do DAB+ em Portugal, não é prioritário.
Eu a parte do DAB + até já dou de barato que não vá ocorrer tão cedo. Infelizmente, parece-me que politicamente não há condições para avançar. Mas mesmo com o velhinho FM podemos ter margem para mudar o setor. Deixem-me fazer uma questão: supondo que, por exemplo, no Algarve, a Rádio Fóia tivesse acesso a um segundo emissor na Serra do Caldeirão, para o Sotavento, o desfecho teria sido este? Até que ponto a escala permitiria fazer crescer e ter uma sustentação maior dos projetos locais, sem que tenhamos de ter o Estado a suportar direta ou indiretamente? Ou, pelo contrário, agravaria os problemas? Eu não me importaria de avançarmos para um modelo à Espanha, com uma musical regional e outra tendencialmente (mais de 75% para começo de conversa) de palavra. Acho que funcionaria razoavelmente bem. No remanescente, completaria as redes nacionais existentes, da mesma forma que Espanha faz, com emissores de mais baixa potência, mas que asseguram uma transmissão eficaz ao longo do território.
Já aqui provei que se seguíssemos o modelo Espanhol, poderíamos ter cobertura nacional (ou quase) para 4 Rádios do grupo RTP, 4 da Baeur, 3 da R/Com, mais 3 informação (TSF, OBSRVDOR e NOW/CMR) e ainda daria para dar uma rede decente à Rádio Maria e à SW, mais as duas regionais. Isto fazendo a transposição do número de estações que há do outro lado que se ouvem razoavelmente bem na grande parte do território habitável. Tal como lá, ainda daria para algumas locais. Dou sempre o exemplo de Madrid que tem 14 emissores com mais de 20kw a servir a cidade, a que se junta ainda mais um com 10Kw, potência a que devem sair hoje qualquer uma das Antenas nacionais de Lxb e Prt, da COPE (que curiosamente, tem emissores mais potentes para outras estações do grupo). Tomara nós termos 15 rádios com qualidade para meter em emissores desse calibre, eu já sou mais modesto e ficava pelos 20Kw.
Contudo, não estamos a falar de meras jukeboxes. São projectos radiofónicos com gente lá dentro, com uma ampla cobertura e que cumprem, não só em companhia, mas também na informação das gentes que vivem nessas regiões.
É imperativa a revisão de uma lei anacrónica e fomentar estações de cariz regional, em prol do direito à informação nas regiões fora das áreas metropolitanas.
E na rádio, a RTP tem culpas no cartório sim por não fomentar estações de cariz regional no seu portefólio, algo que é comum noutros países da União Europeia (e que não são assim tão mais ricos que nós).
Precisamente por serem projetos com gente dentro é que não se aguentam, porque têm despesas para pagar. Por outro lado, existirão mais casos como a EBEIRAS, as pessoas não são eternas, e empresas que sejam muito pequenas, tendem a morrer com as reformas dos proprietários, ou mesmo com o falecimento destes. Esse é um problema da competividade portuguesa. Jukebox aguentam-se, são vegetais com o cérebro morto, mas o corpo, de estar deitado, dura muito.
Eu nem sei se tem de ser a RTP a fazer isso. Acho que bastariam desdobramentos numa ANTENA 5, com noticiários regionais, e aumentar a produção a partir dos centros regionais, com personalidades de relevo das várias regiões, que devem ter lugar na nacional. Para mim, isso sim, faz falta. Ou seja, presença em antena nacional de mais regiões, bem como a RTP ter uma rádio de informação, exclusivamente de palavra, e que a ANTENA 1 siga o exemplo das suas irmãs estrangeiras e se torne igualmente generalista 100% de palavra. Esse chavão da música portuguesa pode e deve ser tratado noutras instâncias. Não me consta que a música de língua espanhola tenha falecido por a RNE 1 não passar música, exceto em um ou outro programa de autor, ou no fim das horas. O privado, em matéria musical, consegue dar bem conta do recado, o que foge mais do mainstream tem (normalmente) lugar na Antena 3, e se não tiver nesta, tem onde? Daqui a pouco, por essa ordem de ideias, se a Festival acabar e a No Ar for pelo mesmo caminho, exigimos da Antena 1 que toque "Põe a Cerveja no Congelador?" e cinco minutos depois transmita a Geometria Variável (exemplo académico hiperbólico). É urgente também dotar a Madeira e Açores de emissão nacional 24/7 da Antena 1. O regional é relevante, mas não deve nunca impedir o acesso ao nível macro. Uma rede regional musical pode e deve ter, naturalmente, um cariz mais de música popular. Para música Comercial, já temos serviço nacional.
Eu não abordei esse tema das redações, porque era demasiado lógico para abordá-lo. É óbvio que qualquer que fosse a rádio pseudo-nacional a ficar com a Fóia, jamais iria abrir uma redação no Algarve, ou no máximo, ficar com o antigo estúdio da Fóia. Ao contrário do que acontece aqui ao lado em Espanha. Convém lembrar que a SER (rádio mais ouvida de Espanha), tem um pequeno estúdio numa localidade tão pequena como Ayamonte. É só passar a fronteira.
Nélson, o que a rádio tem de ter, isso sim, é capacidade de produção. Naturalmente, ter um estúdio dá-lhe isso. Emissão, confesso que tenho algumas reservas. Imagina que nem é a Mega, mas sim a Observador ou a TSF a pegar na Fóia. Que atualidade relevante há em Monchique que justifique mais de 10 minutos de emissão diária? Se calhar nem isso. Talvez o futebol seja um atrativo, mas será que paga o custo de ter um jornalista e um relatador, que sejam efetivamente bem pagos, e não a receber uma esmola? O Atento publicou há uns tempos um artigo sobre uma das SER que ia passar a retransmitir Madrid. Mesmo por lá, onde o dinheiro parece nascer nas árvores, numa economia que não é substancialmente diferente da nossa em termos de fundamentais macro, há uma tendência de centralização. Dou-te o exemplo, no meu escritório já apanho razoavelmente dois emissores da SER, 105.1 Tui da rede "local" e 100.6 VIGO que retransmite integralmente Madrid. Posso dizer-te que já piquei a várias horas, seguramente das 09h às 21h, nunca vi emissão desdobrada, para lá da publicidade a umas lojinhas locais de Tui ou até dos municípios da raia portuguesa. Por isso entendo que são precisos jornalistas para cobrir a região, emissão autónoma, tenho dúvidas. Digo-te, mesmo aqui no Porto, não acho que exista matéria que justifique tamanha relevância. O problema deste país é outro: tudo gravita em torno de Lisboa, e, como tal, os OCS estão onde há matéria noticiosa. Existindo descentralização, com governos regionais, por exemplo, este panorama alterar-se-á substancialmente.
Vamos a factos, com 1/3 dos emissores a Mega Hits tem tanta ou mais audiência que a TSF, por exemplo. Ao ler este tipo de comentários dá a entender que esses ouvintes não merecem ter acesso à Mega Hits. Não tenho a menor dúvida que os 97.1 vão quadruplicar de audiência com a introdução da Mega Hits nessa frequência.
Certo, mas a TSF, em termos de importância, está uns furos acima da Mega. Este fim-de-semana estive na RTP Porto e ficou-me uma frase no ouvido: "Pode-se fazer melhor ou pior no entretenimento, na informação tem de se ser excelente sempre, porque esta é a razão da TV e da Rádio existirem". Concordo plenamente com esta visão. Portanto, medir audiências de musicais e informativas em conjunto, acho um exercício perigoso. Não trocaria nunca uma RRN da TSF para ter lá qualquer muscial a emitir. É uma questão de prioridades e interesse estratégico.
Dito isto, não percebo também a reserva "mentofónica" que existe em relação à Mega, que não existe de todo em relação à Cidade, ou até à Nova Era. Não sei se vai quadriplicar, mas sei que é um produto que vai fazer bem ao éter algarvio. Há espaço para todos, se não tivermos uma Lei aberrante, que obrigue a comprar alvarás. A concorrência é sempre salutar. É de lamentar o que se passa com a Fóia, sem dúvida. Faz falta? Evidentemente, é a única rádio popular do Algarve, que tem um público que fica sem esse tipo de oferta. Diria que seria o equivalente a, no Porto, se perder de uma vez só Festival, No Ar e Regional de Arouca. Mas a Mega não a matou. A Fóia morreu, e a Mega viu ali uma oportunidade de crescimento. Se negamos a oportunidade de projetos crescerem, algo vai mal.
Claro que as audiências não transitam. Nem eu sou ouvinte habitual da Festival, nem o meu avô vai ouvir a Mega. São produtos diferentes, para públicos distintos também.