Caro Radiofilo,
Não mencionando o exemplo da CP, era a empresa que tinha no meu pensamento.
Haveria muito a dizer sobre o que escreveu, mas fica para outros fóruns dedicados à ferrovia, uma das minhas grandes paixões.
Saudações ferroviárias!
PS: Desculpem o off-tipic.
Andamos todos a escrever no fórum da CP?
Ando a tentar montar um projeto, que já vou conseguir apresentar brevemente a pessoas que têm algum poder decisório neste país, em que no mesmo vou cruzar as ondas e os carris. Aparentemente, o mercado da rádio e o do TP são muito diferentes, mas têm mais em comum do que o que se possa pensar, nomeadamente, uma legislação obsoleta, e um Estado que está onde não devia e não está tão forte quanto devia onde deve e tem de dizer "presente". Aparte de que ambos têm graves problemas de infraestruturas.
Tanto a CP como a RTP ficaram descapitalizadas, nos próximos anos, em provavelmente, um valor em torno dos 20M€, que vamos, todos nós, acabar a pagar de uma forma ou de outra, e não antevejo que seja a termos melhores serviços. O desastre dos IC's, particularmente na Linha do Norte, será visível mais rapidamente, até porque a RTP perde a publicidade de forma mais gradual, mas foram duas más medidas deste Executivo, quando, num caso e noutro, era preferível gastar essa verba em reforço de infraestruturas.
Caro pdnf, desde já, saudações ferroviárias!
Força com esse projecto!
E olhe que a IP, empresa pública responsável pelas infraestruturas, não só, ferroviárias como rodoviárias, é a desgraça que se conhece... Atrasos constantes nas obras em curso (Beira Alta - um autêntico escândalo, Oeste - que conheço particularmente bem, Linha do Norte - com atrasos nas circulações constantes e diários, etc), obras mal planeadas, enfim, a lista é grande...
Temos que descobrir um fórum sobre ferrovia para batermos umas bolas por lá!
Boa sorte para o projecto, pá!
Reforçando a ideia do Radiofilo e tentando fintar as questões políticas, a Infraestruturas de Portugal é uma espécie de Estado dentro do Estado e que é um mau exemplo para o país.
Resumidamente, em 1997, por directiva europeia, o mercado ferroviário que era monopolizado pela CP foi alterado, uma lógica de abertura aos privados. Retalhou-se a companhia em 3: CP (serviços ferroviários de passageiros e carga, bem como toda a operação que ela acarreta), REFER (as infra-estruturas) e a EMEF (os grupos oficinais).
Escusado será dizer que, mesmo tendo o mercado liberalizado nos seus países, a alemã DB e a francesa SNCF continuam a dominar todo o sector ferroviário, contornando as directivas europeias. Eles podem!
Em 1999 (PM Guterres), o primeiro e único operador externo de passageiros, sem contarmos com as parcerias com a RENFE em serviços como o Celta e os saudosos Lusitânia e Sud-expresso, foi a Fertagus, pertencente ao Grupo Barraqueiro (que tinha como accionista poderoso a extinta holandesa Arriva que era detida pela estatal alemã DB), operando na recém-criada Linha do Sul com 18 automotoras 3500's que são da frota da CP... e, subsequentemente, o contribuinte português pagou o material circulante para os privados operarem com um Contrato de Serviço Público bem abonatório à Fertagus, não esquecendo outras condicionantes ao acaso.
A própria CP também foi, mais tarde, retalhada em várias «sub-empresas», tendo esse processo revertido com a alienação da EMEF já no tempo do ministro PNS e do Eng. Moreira.
Até lá, em 2009, depois do Estado ter comprado 25 locomotivas à Siemens para a CP Carga, esta foi privatizada à MSC alegadamente abaixo do valor das 25 locomotivas 4700 da Siemens, ficando ainda o operador privado com todo o material circulante que estava afecto à CP Carga.
Em 2015 (PM PPC, secretários de estado Sérgio Monteiro e um tal de Miguel Pinto Luz, Miguel Ramalho como presidente), juntaram a REFER, E.P.E. com a falida Estradas de Portugal, S.A. para se criar a IP, S.A.. A experiência conhecida na Europa de uma empresa que junte ferrovia com as estradas foi na Suécia, a qual foi revertida, não sendo um particular sucesso.
O transporte ferroviário, desde dos anos 80 que sempre foi um parente pobre em Portugal face à rodovia, com o encerramento de inúmeras vias que serviam regiões periféricas e que deixaram de ter transportes viáveis que os levassem aos centros urbanos mais próximos.
Nos dias de hoje, quando estamos a poucos anos da UE proibir os vôos regionais a pequenas distâncias, haver uma empresa que gere as estradas (que tem direito a poucos fundos europeus) com ferrovia (alegadamente, subsidiada pela Europa) é mau sinal. Além de que, de parte a parte, há gente que não tem o conhecimento do sector vizinho e que foi transferida para tal.
Para rematar com o novo PNF, a CP é uma empresa que tem má imagem no público português. Às vezes por culpa própria, tendo alguns vícios que deveriam ser limados. Mas neste país há a ideia de que uma E.P..E. não deve gerar lucros. Deve sim! Eu concordo com o PNF para os serviços Regional e Interregional (não estava anteriormente contemplado), mas nunca para o IC. Os serviços comerciais da CP devem dar lucro que ajude a suprir os prejuízos causados pelos serviços efectuados em regiões onde a densidade populacional é baixa. Ora este passe, tal como na RTP, será uma machada nas contas da empresa.
Aliás, existe a ideia que a CP é uma casa mal gerida. Nada disso! A CP neste momento dá lucro e não foi graças a uma injecção de dinheiro, estilo TAP. A CP não recebia indemnizações do Estado através do Contrato de Serviço Público desde 2002 (PM Durão Barroso). A UE é que obrigou o Estado a cumprir com a CP, como tão bem cumpre com a rodovia (concessionárias de AE, Grupo Barraqueiro, etc.).
Por fim, concordo contigo. O Estado mete-se onde não deve e não se mete onde deveria se meter!
Na minha concepção, tudo o que são infra-estruturas vitais deveriam ser do Estado (ANA, REN, E-Redes, as infra-estruturas e imóveis que estão na Altice, IP, etc.).
Não é uma questão de Esquerda ou Direita. Há países liberais na economia onde isso acontece. É sim, uma questão de soberania! Neste momento, por exemplo, a questão do novo aeroporto de Lisboa está condicionada pelos apetites da Vinci, tal como as fundamentais obras de ampliação da pista na Portela. Aquele aeroporto foi transformado num centro comercial e foi considerado há pouco como o pior do mundo!
Além disso, vivemos no país do respeitinho, onde há a tendência de financiar alguns privados privilegiados com a desgraça dos serviços públicos.
Eu sou a favor do sector privado e da concorrência, desde que não seja à custa dos contribuintes e que o serviço público seja garantido.
Onde é que o Estado não se deveria meter? Em empresas que não são estratégicas como a EFACEC, a Companhia das Lezírias, ou a pagar indemnizações a quem não tem consciência que, em pleno século XXI, não se pode ter um negócio/produção e, diria mesmo, casa no meio do mato sem estarem segurados.
PS: Mais uma vez, peço desculpa pelo off-topic, assumindo as responsabilidades desta publicação extra-rádio.