Mais duas rádios locais com os respetivos alvarás renovados, a saber, a Ràdio Lumena (107,1MHz Velas) e a Rádio Planície (92,8MHz Moura). A propósito do que desencadeou toda a conversa acima, temos aqui dois exemplos excelentes e contrastantes. A Rádio alentejana, que cumpre plenamente aquilo que é esperado de uma rádio deste cariz, não esquecendo que tal decorre do artigo 32º da Lei da Rádio, e a emissora açoriana que não é mais do que uma mera jukebox. Vou iniciar citação da própria ERC:
"23. Nas audições efetuadas registaram-se algumas irregularidades, desenvolvidas nos pontos seguintes,
para as quais se alerta e que deverão ser regularizadas pelo operador, [o negrito é do próprio texto da deliberação] pois serão objeto de acompanhamento em sede de ações de supervisão
da ERC, a realizar oportunamente.
24. Constataram-se algumas discrepâncias entre o conteúdo da emissão e o descrito nas sinopses dos programas, com uma predominância de conteúdos musicais, sem qualquer intervenção dos locutores ou ouvintes, a ausência de programação relevante para a audiência da área de cobertura, nomeadamente nos planos social, económico, científico e cultural (cfr. artigo 32.º, n.º 3, da Lei da Rádio).
25. É de alertar o operador para a necessidade de assegurar uma programação que respeite as exigências do disposto do artigo 32.º da Lei da Rádio".
Diga-se que a Rádio Lumena, para além de passar música, transmite 3 serviços noticiosos regionais e simultâneos de boletins nacionais com a RR. Não cumpre também as quotas de música portuguesa recentes. A questão que me apraz é a seguinte: este alvará deveria ter sido renovado, desde já, por 15 anos? Faço outra questão: e se a Rádio Lumena não cumprir, quais serão as consequências práticas, e não falo de coimas, que não resolvem o problema do auditório. Existirá possibilidade desta licença ser revogada e aberto novo concurso?
Deixo no ar mais uma questão: não seria mais eficaz termos produtos que cumprem, e sabemos que eles existem, a serem redes regionais verdadeiras (não os monstros que são a RRN e RRS) em lugar de microrádios, em que exemplos como a Lumena, a Ràdio 5 ou a Linear, pouco acrescentam?
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Vão-me desculpar, mas ponderei se deveria escrever estas linhas ou não, e é provável que venha parede.
De tempos a tempos nas entrelinhas, já deixei escapar que gostaria de ver o fórum evoluir para algo mais do que um local onde trocamos umas impressões sobre rádio, para se tornar numa verdadeira plataforma de defesa e valorização do setor, juntando os dois lados, quem a faz e quem a ouve. Gostaria mesmo de tornar tal possível, já percebemos todos o quão multidisciplinar a rádio é hoje em dia, discutimos aqui conceitos que vão da comunicação ao direito, passando pela economia e gestão, sem esquecer as artes, e, evidentemente, a engenharia, a trave mestra que permite que a mesma seja escutada. Acredito que tal contribuiria para valorizar o setor, e acima de tudo, abrir os olhos do poder político e seus agentes (reguladores) para um meio que não pode, nem deve estar esquecido, que não morreu, pelo contrário, está vivo e recomenda-se.
Porém, enquanto essa utopia não é alcançável, resta-nos este espaço, que graças ao esforço do Sr. Luís Carvalho, que apenas sei ser um cidadão do interior sul apaixonado por rádio, podemos frequentar. Como alguém me disse uma vez, é verdade que ativos na partilha não somos muitos, uns 10/15 no máximo, mas temos diariamente muitas visitas. Há hora que escrevo esta mensagem, já avançada, estão 38 pessoas a visitar o site, não há muitos meses atrás, setembro, bateu-se o recorde com 286 pessoas em simultâneo a lerem este espaço. É um número absolutamente relevante, que deve a todos nos motivar para continuarmos a debater e a construir uma rádio melhor e mais plural. Todavia, acresce a todos, uma enorme responsabilidade, que é fazê-lo com urbanidade, civilidade e no respeito dos mais basilares princípios democráticos. Confesso, sempre que surgem este tipo de discussões mais acaloradas, incluindo quando já eu próprio fui envolvido numa delas, tenho vergonha. Sinto que é um bocadinho da legitimidade deste espaço de discussão que se mata. Não revelo conversas privadas aqui, mas vou abrir uma exceção, e peço já desculpa à pessoa em causa, para confidenciar que já me foi dito que nós pensamos mais rádio do que quem trabalha no meio. Quando nos prestamos a deixar subir o tom da discussão, perdemos legitimidade e credibilidade para vermos as nossas ideias se tornarem construtivas ou, pelo menos, servirem de base para reflexão pelos agentes do setor. Note-se, não estou a atacar ninguém em concreto, mas a situação, eu próprio já cometi erros aqui dos quais me arrependo, porque sei que magoaram pessoas. Se nos prestamos a usar minutos do nosso tempo em prol da rádio, é porque temos uma paixão. Que é tão válida quanto qualquer outra, todo o ser humano as tem, e quem não, é porque não está muito bem com a vida. Mas queremos que essa paixão se transforme numa espécie de comportamento de claque, em que a dado ponto, já pouco importa o objeto da paixão, e focamo-nos somente numa defesa intransigente da nossa posição. Perdoem-me a ousadia desta pequena reflexão. Escrevo-a com os mesmos graus de liberdade, que me permitem que, até aqui nunca tenha decidido revelar o meu nome (apesar de nunca ter negado ser o pdnf a quem descobre): não tenho agenda. Há um político que diz que o seu único partido é a sua cidade, aproveito a ideia, transformando-a em "a minha única agenda é a Rádio!". Saudações! (Acho que ficou pelo muro, não chegou à parede.
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