Contudo, o Porto, como muito bem diz, é sede de uma área metropolitana. Tem acesso a bens e serviços que mais nenhuma cidade em Portugal tem, inclusive a própria capital.
Acha-se injustiçado? O que dirá o prezado administrador deste fórum que, na sua região (Portalegre) é a única que tem uma dúzia de quilómetros de auto-estrada entre Vila Boim e Badajoz, mais outra meia dúzia no Furtado (freguesia de Belver), sendo que os únicos comboios diários que param na estação que serve a capital de distrito (e a que dista a uns 12 KMS do centro da cidade) datam de 1954?
E a Região Centro. Sabia que até há bem poucos anos, era comum os pais não deixarem os filhos adolescentes irem à escola para estes cuidarem dos lameiros? Era prática em alguns municípios limítrofes a Coimbra, a cidade do conhecimento e dos estudantes e que, para muitos, ainda é «a terceira cidade do país e a capital de jure de Portugal».
Se o Porto deveria ter uma rádio local, que informe da vida que se passa na cidade e nos municípios à volta? Sem dúvida!
A Nova poderia cumprir esse desiderato.
E sim, temos uma lei anacrónica e um serviço público que deveria fazer muito mais pelas regiões.
Bigodes, por acaso não sei a que serviços e bens te referes. Assim de repente, só se te estiveres a referir à indústria. Porque em termos de cultura e de serviços, estamos a anos luz de Lisboa. Daí que fale, tantas vezes, na importância de criar aqui um cluster cultural.
Claro que o que descreves de seguida, é absolutamente verdade, e nos faz sentirmos uns autênticos privelegiados, em comparação com qualquer outra região do país, exceção feita a Lisboa.
O que descreves em relação a Coimbra, continua a acontecer às portas do Porto, em Felgueiras e Paços de Ferreira. Ninguém gosta de falar disso, mas trabalho infantil é algo que não falta por aquelas bandas.
Eu até acho que, do ponto de vista cultural, a Nova faz um papel razoável. A rúbrica "GPS" da Inês Lopes da Mota, para além de dar gosto ouvir, porque tem uma das melhores vozes de rádio que por aí anda, é mesmo bastante informativa. Já tenho ouvido várias sugestões de peças, concertos, filmes na Nova. Claro, devia ser uma rádio mais de palavra, mas sabemos as dificuldades que é segurar pessoas nas locais. Aliás, nesse particular, Lisboa não está exatamente pior. Já provei, há uns anos, que Lisboa está igualmente, ou talvez até pior que o Porto, privada de radios municipais ou regionais. O emissor da TSF em Monsanto não dá notícias de Lisboa, dá notícias do país. Que muito do que é relevante no país informativo se passa em Lisboa? Sem dúvida, não havendo regionalização, é assim mesmo. E é a capital. Agora, isso não significa que a vida da cidade esteja devidamente tratada pelas rádios locais. Aliás, dos emissores de Monsanto, nenhum é local, estão todos em projetos nacionais: TSF, SBSR, SMOOTH, CIDADEFM, MEGAHITS e AFRICA. Seis frequências locais que foram alocadas a projetos nacionais...
Não querendo monopolizar este fórum para questões extra-rádio, o Porto tem infra-estruturas que nem em Lisboa vejo, nomeadamente ao nível urbanístico que é uma área que me é cara. Em alguns aspectos, sinto uma maior convergência com cidades europeias no Porto que em Lisboa. E ainda bem que as tem.
Quanto ao que falas sobre as rádios locais, concordo contigo.
É notório que as nacionais, até por estarem sediadas na capital, abordam mais temas relacionados com a cidade onde estão localizadas.
Também me questiono, por vezes, a promoção a pequenos eventos em Lisboa terem uma repercussão maior que eventos grandes em cidades médias como Viseu, por exemplo.
Agora, lá está. Não tens uma rádio local com esse valor em ambas as cidades.
Quanto à Nova, ela cumpre, a muito custo e até a família Azevedo assim o quiser, o objectivo a que se propõe. Ser uma rádio com música urbana, tendo ainda alguma gente de valor lá dentro.
E sim, há um elefante na sala que tu referes muito bem.
A Constituição da República Portuguesa de 1976 é bem clara: o caminho para a Regionalização há muito que deveria estar trilhado. Não para alimentar pseudo-separatismos ocos, mas para garantir uma maior autonomia das regiões.
Em comparação com Espanha, nós somos uma nação una, desde Cevide a Vila Real de Santo António, passando pelo Corvo às Desertas. Os nossos vizinhos, ou os belgas, por exemplo, não se podem munir dessa sorte.
E são os actores das regiões que mais conhecem a realidade do território, podendo e devendo geri-las.
Até lá, a Constituição estipula que os clusters territoriais deverão ser os distritos. Contudo, sabemos que desde há muito que os distritos são meramente figurativos. O que contam são as NUT's, sendo que, em muitos casos, são desenhadas não tendo em conta as características geofísicas e humanas dos locais, mas sim, a forma como o Estado Central poderá «sacar» mais fundos europeus. A minha região, para uns assuntos responde a Tomar, para outros a Lisboa e para outros a Coimbra.
Arouca faz parte da Área Metropolitana do Porto, por exemplo.
Enquanto não se olhar convenientemente para o território, assuntos como a Lei da Rádio e os órgãos de comunicação social locais/regionais serão sempre relegados para segundo plano.
Entretanto, mais uma local que estava em aperto foi comprada para uma rádio nacional que, para se impor, tem que comprar alvarás aqui e ali.
Nem faz sentido para as nacionais, que deveriam ir a concurso por frequências, nem faz sentido haverem tantas locais, muitas delas sendo autênticas jukebox's.
Também não faz sentido a RTP não ter rádios de cariz regional no seu portefólio, à excepção da Madeira e dos Açores.