O Kalorama ainda tem caminho para palmilhar. Ainda está uns furos abaixo do Primavera e do Alive, o RiR é toda uma outra dimensão, goste-se mais ou menos do estilo. Dos cinco que enumeraste, só ainda não estive no Paredes, pode ser que me estreie este ano, mas acredito que seja até mais próximo do RiR do que dos outros dois.
Se o Montez quer ter alguma oportunidade, pode ser a de tentar fazer um Festival intercalado com o RiR, e numa área mais urbana, porque ir em Agosto para o meio do Alentejo, é para adolescentes, que tipicamente não gastam muito dinheiro.
A MnC teve o seu tempo, e penso que não terá sido culpa do Montez a sua queda. São as circunstâncias normais da vida das empresas.
Nem mais.
Quando Montez começou a organizar festivais estes praticamente não existiram em Portugal. Teve o mérito de ter sido o percursor com o SBSR e depois o Sudoeste.
A verdade é que Montez passou a ter concorrência muito forte (inclusive com apoio estrangeiro), apareceram o Alive, o Primavera Sound ou o Rock in Rio e outros cresceram muito como o Festival de Paredes de Coura. Os seus festivais foram ficando para trás, mais a mais porque são em locais de difícil acesso e estadia, coisa que nos tempos actuais é fundamental.
A corda tinha de roer por algum lado.
É fenómeno relativamente recente. Em 2017 o NOS Alive foi o primeiro festival completamente afirmado e rivalizável com os do Montez... mas já em 2014 ameaçava a coisa ainda como Optimus Alive. O Sudoeste ainda se aguentou razoavelmente com um cartaz minimamente dentro da coisa até 2018/2019, mas o Super Bock Super Rock já há valentes anos que estava mais fraco. A fase descendente começa ou na pandemia ou pouco antes dela.
Tu dizes que os acessos são difíceis e a estadia é difícil para os festivais do Montez?! Mas como assim?
Garanto-te que em termos de acessos são bem melhores que ir ao Passeio Marítimo de Algés para o NOS Alive, onde todos os anos há uma fila de 2 horas por via rodoviária e gente à pinha nos comboios e autocarros e Ubers para chegar ao recinto do NOS Alive. Ou a extrema dificuldade que é arranjares um sítio, legal que não arrisques ser rebocado, para estacionares para o Primavera Sound, que o Parque da Cidade não é sitio fácil de se arranjar estacionamento. Não sei e abstenho-me quanto ao Paredes de Coura e quanto ao Marés Vivas, sei que no primeiro há estacionamento mais organizado e no 2o, epá, é o Canidelo, quão complicado há de ser, mas calma também...
O Sudoeste tem muitos acessos. Tem autocarros diretos ao recinto de vários pontos do país todos os anos, sempre teve, tem ligações ponto-a-ponto da Zambujeira do Mar, tem táxi no horário da madrugada a operar (não é propriamente barato). Acessos não são o problema. Nem arranjar onde dormir para o Sudoeste neste momento, que tens bastante oferta a baixo custo na Zambujeira e circundantes (São Luís, Odemira, etc). Por via rodoviária o acesso é de terra batida e podia ser um pouco melhor, mas não é sequer o espírito do festival.
O Super Bock Super Rock está dependente dos acordos que são ou eram feitos e durante imenso tempo houve autocarros a partir diretos dos Foros de Amora para o Meco, do Oriente para o Meco, do Montijo para o Meco. No último ano de festival isso não aconteceu, não sei porquê, mas isso sempre existiu. Por via rodoviária não são o pior que já vi. Não é como se ficasse uma autoestrada à porta, mas podia ser pior.
Por este andar da carruagem o Boom Festival, que é no meio de exatamente nenhures, não teria qualquer freguesia. E tem. Esse não é o problema.
O problema são os cartazes globalmente cada vez mais previsíveis, com pouco envelope puxado, pouco acompanhamento das tendências da atualidade e de nomes sonantes para fazer a pessoa largar notas. Para ter nomes sonantes é preciso dinheiro, dinheiro esse que está ou esteve em falta. O Jardins do Marquês tem uma construção distinta, é um concerto pago bilhete-a-bilhete compensado pela 1a água dos artistas, e portanto rentabiliza por si só tal como se eles fossem à Aula Magna, paga-se a ele mesmo. Num festival grande tens que fazer economias de escala - o problema é que o Montez tem feito economias de economias nos últimos 5/7 anos. Até agora. Este ano ou no seguinte logo vemos.
É muito cedo para anunciar a morte dos festivais do Montez, é mesmo muito cedo, e manifestamente exagerada qualquer reinvindicação de morte dele. O homem reinventa-se e arranja sempre maneiras de furar o esquema, e não há Covões que lhe meta medo. É ter calma, ter paciência, dar tempo ao tempo, e já se vê a resposta. Até porque recebeu 4 milhões e tal de euros, que bem vão servir para limpar passivos e reinvestir.
Caem (ou mudam) primeiro as rádios que os festivais...