Autor Tópico: O futuro dos espectaculos ao vivo  (Lida 279 vezes)

ocentos15

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O futuro dos espectaculos ao vivo
« em: Novembro 29, 2024, 12:55:04 am »
Alguém já viu a notícia da compra do Meo arena pela Live nation? É uma gigante americana do mundo dos espetáculos, e parece que vão dominar ainda mais o mercado por cá.

O que acham da forma como esta empresa define os preços dos ingressos? Em função da procura, podem chegar a custar 10x mais! É só sacar o máximo possível.

Já tinham comentado isto comigo, a propósito da MnC ter perdido o Super Bock Super Rock (supostamente para estes americanos) e hoje chegou-me ao email um texto do Diogo Pires da Mega com uma análise interessante sobre a entrada da Live nation no nosso mercado. Bem explicado, gosto deste lado do trabalho dele. Sobre o tema... É um misto de assustador e triste para a nossa Cultura, um setor que já não tinha fama de saudável.

Que acham vocês desta notícia?

pdnf

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Re: O futuro dos espectaculos ao vivo
« Responder #1 em: Novembro 29, 2024, 03:38:55 am »
Novos episódios do Manual de Boas Ideias. Ouve agora!

O que a expansão da Live Nation nos ensina sobre crescimento, inovação e impacto no mercado?

TL;DR
A Live Nation cresce ao controlar a cadeia de valor no entretenimento ao vivo, mas enfrenta críticas pelos preços e impacto na concorrência. Isto deixou-nos a pensar, aqui pelo Manual... Como equilibrar inovação e sede de crescimento com a satisfação do cliente?

Spotlight
Quando pensamos em concertos e eventos ao vivo, a experiência vai muito além do espetáculo em si: envolve o local, os bilhetes, a promoção e toda a logística que transforma o sonho de uma performance numa realidade. Nos bastidores deste universo, a Live Nation tornou-se uma força dominante, consolidando-se como um exemplo claro de integração vertical no mercado do entretenimento ao vivo.

A recente aquisição da Ritmos e Blues pela gigante norte-americana do setor reacendeu debates sobre os benefícios e riscos deste modelo de negócio. Afinal, o que podemos aprender com o crescimento da Live Nation? Quais são os sinais de alerta que nós, empreendedores e gestores, devemos considerar? E como podem as empresas inovar sem perder de vista a satisfação do cliente?

A integração vertical como motor de crescimento

A estratégia da Live Nation é clara: não se limitar a uma etapa da cadeia de valor, mas controlar todas. Do agenciamento de artistas à gestão de salas de espetáculos, da promoção de eventos à venda de bilhetes através da Ticketmaster, a empresa desenhou um modelo que elimina intermediários e oferece maior controlo. É uma abordagem eficiente, que permite reduzir custos operacionais e criar uma experiência integrada para o cliente final.

Num mercado tão competitivo como o do entretenimento, essa centralização trouxe vantagens significativas. A Live Nation consegue coordenar diretamente a logística dos seus eventos, controlar preços e assegurar que todos os aspetos de uma produção refletem os seus padrões. Empresas que adotam este modelo — Apple e Amazon são exemplos notáveis — frequentemente destacam-se pela inovação e pelo domínio do mercado.

Mas com grande poder vem grande responsabilidade. A integração vertical, quando mal gerida, pode levar a abusos de poder de mercado, prejudicando tanto concorrentes quanto consumidores. No caso da Live Nation, essa preocupação tem ganhado espaço em países como o Reino Unido, onde a Ticketmaster implementou preços dinâmicos que transformaram bilhetes acessíveis em produtos de luxo. O resultado? Bilhetes que deveriam custar algumas dezenas de libras atingiram valores superiores a £350, gerando críticas de fãs, artistas e até de reguladores.

Preços dinâmicos: inovação ou ganância?

Os preços dinâmicos, em teoria, são uma ferramenta inteligente para maximizar receitas. Utilizando algoritmos que ajustam os valores de acordo com a procura, este modelo é amplamente utilizado no setor aéreo e em plataformas como a Uber, por exemplo. No entanto, no contexto do entretenimento, onde as emoções de legiões de fãs de um artista ou banda estão em jogo, os efeitos podem ser devastadores.

Imagina-te a aguardar ansiosamente pela abertura da venda de bilhetes para o teu artista favorito, apenas para descobrir que os preços subiram astronomicamente nos primeiros minutos. É esta experiência que muitos consumidores têm relatado em mercados dominados pela Live Nation e pela Ticketmaster.

Embora o aumento de receitas seja evidente, a prática levanta questões éticas importantes. Até que ponto a maximização do lucro justifica alienar os consumidores? E, a longo prazo, será que esta estratégia é sustentável? Para a Live Nation, estas perguntas não são apenas teóricas: artistas como Bruce Springsteen e Taylor Swift enfrentaram reações negativas dos seus fãs devido aos preços praticados, colocando em risco a relação entre público, artista e plataforma.

Regulação e impacto no mercado

A expansão da Live Nation para novos mercados trouxe outro desafio: a regulação. No Reino Unido, nos EUA e até em Portugal, a posição dominante da empresa tem levantado preocupações sobre práticas monopolistas. Autoridades reguladoras argumentam que a integração vertical pode limitar a concorrência e prejudicar os consumidores, resultando em menos opções e preços mais elevados.

Em Portugal, por exemplo, a recente aquisição da MEO Arena pela Live Nation (por intermédio da Ritmos e Blues) foi aprovada com condições específicas, incluindo o congelamento dos preços de acesso à arena por cinco anos. Esta decisão reflete uma tentativa de proteger os consumidores de aumentos abusivos, mas também expõe o delicado equilíbrio entre permitir a inovação e proteger o mercado de práticas consideradas injustas.

Lições valiosas para empreendedores

Para além da controvérsia, o caso da Live Nation oferece lições fundamentais para qualquer empreendedor ou gestor que pretenda crescer no seu mercado:

A integração vertical como estratégia de crescimento

Controlar várias etapas da cadeia de valor pode ser um diferencial competitivo poderoso. No entanto, é essencial que esta abordagem seja acompanhada por práticas justas e transparentes, tanto para concorrentes como para consumidores.

Tecnologia ao serviço do cliente

Ferramentas como preços dinâmicos mostram o potencial da tecnologia para maximizar receitas, mas devem ser implementadas com moderação e empatia. Ignorar a perceção do cliente pode levar a consequências graves, como perda de confiança na marca.

A importância da regulação

Operar num mercado regulado exige adaptação e responsabilidade. Empresas que desafiam reguladores ou ignoram as preocupações do mercado arriscam não só sanções, mas também danos reputacionais.

O cliente no centro de tudo

No final do dia, o sucesso de qualquer negócio depende da satisfação dos seus clientes. Maximizar lucros é importante, mas nunca deve ser feito à custa da experiência e confiança do consumidor.

A Live Nation é um caso exemplar de como a integração vertical e a tecnologia podem transformar um setor.

No entanto, também serve de alerta para os perigos de negligenciar a perceção do cliente e as implicações éticas de certas estratégias de negócio. O equilíbrio entre crescimento, inovação e responsabilidade é delicado, mas essencial.

Para ti, empreendedor ou gestor, fica a pergunta: como equilibras o crescimento da tua empresa com a satisfação e lealdade dos teus clientes? Que estratégias utilizas para inovar sem comprometer a confiança do mercado?

Partilhei a newsletter do Diogo, a que o Ocentos aludiu (de repente pensei, será que o Ocentos é o Diogo?!), porque gostei bastante do texto, fez-me ter curiosidade de ir à procura na imprensa mais sobre o tema, bem como de ler a deliberação da Autoridade da Concorrência. Vou só acrescentar dois pontos ao texto do Diogo.

1. Os remédios impostos pela AdC incluem a baixa imediata dos preços atuais de acesso ao antigo PA, posterior congelamento no prazo de 5 anos, findos os quais, qualquer revisão em alta da tabela terá de ser passada pelo crivo da mesma autoridade. Ou seja, dificilmente iremos assistir a aumentos superiores à taxa de inflação. Para além disso, nos remédios, está uma taxa mínima de acesso a promotores concorrentes. A LN fica com 30% das datas para os seus espetáculos e não pode impor a Blueticket, que foi vendida no pacote, como a plataforma para venda dos bilhetes.

2. Os preços variáveis ou dinâmicos não são, por lei, permitidos em Portugal. Se não estou em erro, tal decorre de leis de valor reforçado, pelo que só poderá ser aprovado pela Assembleia da República com uma maioria de 2/3.

Posto isto, a questão não é tanto o risco para o consumidor. É mais se vamos continuar a ter oferta. Um modelo de preços dinâmicos pode afastar (ainda mais) de Portugal os grandes artistas. Esse, a meu ver, poderá ser o maior problema.

Em meu entendimento, o detentor da infraestrutura não deve ser a mesma entidade que faz a operação. Isso, para mim, é claro. Os remédios impostos podem minimizar o problema, mas podem levar a uma redução do investimento do promotor no mercado português.
Rádio é:
Ir ao fim da Rua, a ligar Portugal, aconteça o que acontecer.
Mais música nova para sentir (e decidir).
Estar no carro, em casa, em todo o lado, só se quiseres.
Saber que se a vida tem uma música, ela passa-a.
É a arte que toca, mais do que música...PESSOAS. Ah, and all that "unique" soul.

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Re: O futuro dos espectaculos ao vivo
« Responder #2 em: Novembro 30, 2024, 12:54:18 am »
Era desse texto que falava! teve o mesmo efeito em nós, fomos à procura de mais, interessante. Só não cheguei ao ponto de ler a deliberação da AdC.

(...) de repente pensei, será que o Ocentos é o Diogo?! (...)

Haha, não me importava de ter a idade do Diogo, sou apenas mais um entusiasta de rádio como todos por aqui. É sempre engraçado ver como as pessoas ligam os pontos, mas acho que vou manter o mistério no ar! 😉

1. Os remédios impostos pela AdC incluem a baixa imediata dos preços atuais de acesso ao antigo PA, posterior congelamento no prazo de 5 anos, findos os quais, qualquer revisão em alta da tabela terá de ser passada pelo crivo da mesma autoridade. Ou seja, dificilmente iremos assistir a aumentos superiores à taxa de inflação. Para além disso, nos remédios, está uma taxa mínima de acesso a promotores concorrentes. A LN fica com 30% das datas para os seus espetáculos e não pode impor a Blueticket, que foi vendida no pacote, como a plataforma para venda dos bilhetes.

2. Os preços variáveis ou dinâmicos não são, por lei, permitidos em Portugal. Se não estou em erro, tal decorre de leis de valor reforçado, pelo que só poderá ser aprovado pela Assembleia da República com uma maioria de 2/3.

Posto isto, a questão não é tanto o risco para o consumidor. É mais se vamos continuar a ter oferta. Um modelo de preços dinâmicos pode afastar (ainda mais) de Portugal os grandes artistas. Esse, a meu ver, poderá ser o maior problema.

Em meu entendimento, o detentor da infraestrutura não deve ser a mesma entidade que faz a operação. Isso, para mim, é claro. Os remédios impostos podem minimizar o problema, mas podem levar a uma redução do investimento do promotor no mercado português.

Esses "remédios" impostos pela AdC, apesar de bem-intencionados, podem ter um impacto indireto na forma como os promotores investem em eventos no nosso mercado. Garantir condições que atraiam artistas internacionais é importante, mas também é essencial criar um equilíbrio que permita uma programação variada, que represente diferentes géneros e públicos. Afinal, a Meo arena não é só um palco para grandes estrelas, mas também um símbolo da nossa cultura de espetáculo e do que ficou da Expo98.

Será que uma empresa americana, com o controlo parcial das operações, consegue manter esse equilíbrio sem transformar a sala num espaço exclusivamente dedicado aos seus próprios interesses artísticos e comerciais? E até que ponto a nossa legislação, como a proibição de preços dinâmicos, poderá ser uma barreira ou uma salvaguarda para este equilíbrio? Aposto na salvaguarda, mas é preciso fazer-se mais para zelar pelo acesso à Cultura.

Por fim, tem a certeza do ponto 2. que escreveu?

tuscano332

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Re: O futuro dos espectaculos ao vivo
« Responder #3 em: Novembro 30, 2024, 11:51:45 am »
No caso de muito músico português, se não os contratassem as Câmaras e Juntas de Freguesia, não teriam concertos, quer seja para festas, ou para cantar em Cineteatros, com bilhetes a pagar ou de borla, já contractos de empresas é mais nesta época natalícia.

O Bigode do Sala

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Re: O futuro dos espectaculos ao vivo
« Responder #4 em: Novembro 30, 2024, 03:16:01 pm »
No caso de muito músico português, se não os contratassem as Câmaras e Juntas de Freguesia, não teriam concertos, quer seja para festas, ou para cantar em Cineteatros, com bilhetes a pagar ou de borla, já contractos de empresas é mais nesta época natalícia.

Ora aí está. Claro que sou apologista de que hajam espectáculos de artistas mais alternativos, mas os mainstream vivem muito à base de contratos com as autarquias locais e comissões de festas por este país fora, enchendo as salas e os recintos, sem receberem um cêntimo do Estado Central.

Ainda bem que o poder local incentiva a cultura nos seus municípios, a qual vai desde saber fazer coscorões e assistir à Rosinha, até parcos beberetes com vinho francês e peças de teatro físico.
« Última modificação: Novembro 30, 2024, 03:20:18 pm por O Bigode do Sala »
«O que acontece no Mundo é que toda a gente que nasce, nasce de alguma maneira poeta! Inventor de algo que não havia no Mundo antes de eles nascerem!
E inteiramente individual: cada um poeta que é!»

Agostinho da Silva

pdnf

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Re: O futuro dos espectaculos ao vivo
« Responder #5 em: Novembro 30, 2024, 04:14:30 pm »

Por fim, tem a certeza do ponto 2. que escreveu?

Sim, tenho a certeza, como disse. E com um grande grau de certeza, como referi, tenho ideia que para alterar isso, só com PSD e PS juntos, por exigir 2/3. Salvo erroisso está numa Lei de Bases qualquer.
Rádio é:
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É a arte que toca, mais do que música...PESSOAS. Ah, and all that "unique" soul.