Um comentário relativo às potências utilizadas nos anos 50, 60, 70 e 80: importa recordar que as emissões FM até 1968 eram todas monofónicas. No final dos anos 60, nos anos 70 e no início dos anos 80, apenas o Programa 2 da ENR/mais tarde RDP e o Rádio Clube Português/RDP Programa 4/RDP Rádio Comercial emitiam em estéreo. A Antena 1 e a RR emitiam totalmente em mono até meados da década de 80. A recepção em estéreo exige um sinal mais forte do que a captação em mono, daí que as potências, embora fracas, permitiriam ouvir as rádios de forma confortável em grande parte do país, ainda que, em certas regiões (por exemplo, Leiria ou Viseu) pudesse haver a necessidade de usar uma antena FM exterior para captar satisfatoriamente em estéreo a Rádio Comercial e o Programa 2 da RDP.
Refere as emissões em FM na década de 70. Posso testemunhar o que presenciei em 1977, 1978, aos 7/ 8 anos, quando os meus pais adquiriram um sistema de som com sintonizador analógico. Aquilo era um fascínio para mim: tinha hipótese de ouvir as sonoridades da moda que os meus primos mais velhos ouviam, a parte frontal do aparelho continha uma janela/visor em vidro com quatro escalas retro iluminadas, SW | LW | MW | FM, um ponteiro iluminado com uma cor vermelho escuro, que se deslocava sobre as escalas através de um botão de tuning rotativo e uma luz piloto de vermelho vivo, que apenas se acendia numa estação. Nessa estação, mais tarde o ‘FM Estéreo da Rádio Comercial’ o som modificava-se, mais extenso nos baixos e agudos e, pasme-se, com efeito espacial. No entanto, o ruído de fundo aumentava significativamente se mudava de mono para stereo. Mas tarde, vim a descobrir, em casa de um colega de escola, que o sintonizador dos meus pais não tinha antena ligada, uma vez que o aparelho dos pais dele tinha antena. Talvez esta indicação sirva para extrapolar da potência de funcionamento dos (poucos) emissores nesse tempo.
Portanto, sem antena, ouvia-se em Santarém, 80 km de Lisboa, 40 min. para chegar, via autoestrada, todas as emissoras de nacionais, através de Montejunto e Monsanto (não me recordo dos emissores da Lousã, portanto não vou arriscar com uma afirmação). O emissor de Montejunto, 99.8, entra em funcionamento na primeira metade de 1984, claro, já em estéreo. O emissor de 90.2 esteve muito tempo a funcionar apenas em mono. Os emissores de Montejunto melhoram significativamente a cobertura de sinal no Ribatejo e zona Oeste, pois o sinal forte que se capta em Santarém, quer de Monsanto, quer da Lousã, rapidamente se desvanece, ou desaparece, à medida que se desloca para a faixa litoral. Montejunto, evita oscilações de sinal da Lousã e Monsanto, dado que, nesta zona, o sinal é sempre forte, no nível máximo.
A partir do início de 1983, através de um sistema ‘Pioneer’, com indicador de força de sinal, constatava-se, ligado um fio a servir antena interior, que o ponteiro de sinal, indicava 97.4 no máximo.
Portanto, até 1977/78 apenas uma estação emitia em estéreo. Não me lembro de outra. O espetro estava limpo, longe da saturação de hoje, com inúmeras frequências vagas.
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O mesmo se verificava com a TV analógica. Aqui tínhamos as antenas orientadas para Monsanto, pois, com esta configuração, viam-se, através das frequências de Montejunto e Monsanto, as imagens totalmente limpas desses centro emissores. Havia outra vantagem, a imagem de Montejunto da RTP1 era menos contrastada que a de Monsanto, embora o primeiro tivesse melhor qualidade de som. Montejunto encontrava-se temporizado, desligava às 2 h da manhã, estivesse com mira técnica ou com emissão no ar (evento desportivo, filme, etc.). Com o emissor de Montejunto da RTP2 aconteceu um episódio caricato em meados da década de 80, difundiu durante algumas horas a emissão da TVE1. Desconheço o que terá provado esta situação.