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Artigos técnicos > O que é a SSB?


    Muitos ouvintes e Dxistas principiantes tentam melhorar a performance do equipamento de escuta comprando um receptor melhor. Todavia, por vezes não conhecendo bem os meandros das radiocomunicações, deparam-se com siglas e expressões técnicas das quais nunca ouviram falar. Para cúmulo, o manual de instruções de muitos receptores é também muito limitado no que toca a ajudar os seus utilizadores a compreender melhor as suas características. Neste contexto, vou tentar descrever o funcionamento e a utilidade da "SSB".

    Antes de mais, convém contextualizar o tema: consideremos uma emissão de radiodifusão em "AM" (modulação de amplitude). Tanto faz ser em Onda Média, em Onda Curta ou Onda Longa, já que os princípios subjacentes ao seu funcionamento não dependem da frequência de emissão. Para que o emissor coloque sinal no éter, é preciso que a respectiva antena irradie uma onda sinusoidal com a frequência a ser transmitida. É o que designamos por portadora. Não obstante, a partir do momento em que a portadora está ligada, o nosso receptor vai captar apenas silêncio. Para que a informação útil (vozes dos locutores, música, etc.) seja transmitida , será necessário modular o sinal em amplitude em torno da portadora. Isto é, a "altura" da onda (a amplitude) varia conforme os sons transmitidos. Se um animador pronuncia a letra "A", a onda terá uma determinada forma. Quando o mesmo animador diz "B", a onda terá uma forma diferente.

    Essa modulação é transmitida em "redor" da portadora. Isto significa que a portadora transmite na frequência exacta de emissão e que a modulação utiliza as frequências acima e abaixo da frequência utilizada pela portadora. Explicando com um exemplo prático, se uma emissão se realizar nos 7000 kHz, com uma largura de banda de 4,5 kHz, por exemplo, a emissão ocupará o espectro compreendido entre os 7000-4,5 = 6995,5 kHz e os 7000+4,5 = 7004,5 kHz.  Quando sintonizamos uma estação de rádio, o som que ouvimos foi modulado em duas bandas laterais simétricas que oscilam acima  (Banda Lateral Superior) e abaixo (Banda Lateral Inferior) da portadora, como se colocássemos um espelho ao lado de um objecto e víssemos em simultâneo esse objecto e a sua imagem reflectida. Quando existem perturbações na propagação da emissão, as duas bandas deixam de ser simétricas e, tal como se em vez de usarmos um espelho plano, observarmos o objecto com um espelho não-plano (convexo, côncavo, esférico, etc.), ocorre distorção. Este fenómeno, facilmente "visível" na Onda Média e na Onda Curta,surge quando os sinais não são reflectidos de forma igual pela ionosfera, alterando a forma da onda que chega ao nosso receptor.

    Um dos problemas inerentes à modulação em amplitude (AM) advém do facto da portadora consumir metade da potência de emissão. A outra metade é subdividida pelas duas bandas laterais. Como facilmente se depreende, este sistema tem o inconveniente de ser pouco eficiente numa óptica energética. Afinal, metade da energia é gasta numa portadora que não oferece nada de útil para o ouvinte e existem duas bandas semelhantes entre si, que poderiam muito bem ser convertidas numa única, como se em vez de termos dois objectos, comprássemos apenas um e arranjássemos um espelho para o reflectir, dando a ilusão de serem dois.

    Esta situação tem uma solução: chama-se SSB (Single side Band) ou, em português, BLU (Banda Lateral Única). Assim, a BLU permite transmitir apenas uma das bandas laterais, evitando o desperdício da portadora. Existem várias modalidades:

  • USB (Upper Side Band) ou BLS (Banda Lateral Superior): como o nome sugere, apenas a banda lateral superior é transmitida.A portadora e a banda lateral inferior são recriadas pelo circuito do receptor.
  • LSB (Lower Side Band) ou LBI (Banda Lateral Inferior): idêntica à anterior, mas aplicada à banda lateral inferior.
  • transmissão da BLS e da portadora: mais eficiente do que uma transmissão convencional "AM", mas que pode ser escutada nos receptores sem BLU.
  • transmissão da BLI e da portadora;
  • Transmisao simultânea em BLS e BLI: permite o funcionamento de duas emissões distintas na mesma frequência. O utilizador ou comuta para BLS ou comuta para BLI, conforme a emissão que lhe interessa.

    Perguntar-se-á o leitor: e como ouvir emissões em BLU? Sugiro que percorra a faixa HF (3000-30.000 kHz) entre as faixas de radiodifusão em Onda Curta e dificilmente não encontrará nenhuma emissão em BLU. Atenção que de pouco nada serve utilizar um receptor sem esta funcionalidade, sob pena de se ouvir uma emissão altamente distorcida, popularmente conhecida como a "voz do Pato Donald". Creio que a alcunha popular é suficientemente reveladora da situação: o ouvinte incauto ficará certamente frustrado ao não conseguir entender nada da emissão, a não ser que adquira um receptor adequado e o comute para a "SSB", altura em que deverá rodar o botão de sintonia fina até obter um som inteligível.

    Outra questão pertinente será: e que outras vantagens tem a utilização da BLU? Maior resistência ao desvanecimento, melhor qualidade de recepção em condições de propagação adversas. Como contrapartidas, a BLU não está disponível em todos os receptores, tem uma qualidade de som inferior à utilizada em AM e poucas estações de radiodifusão utilizam este sistema. Os grandes utilizadores da BLU são os serviços civis e militares de certos países, serviços de informações meteorológicas e outras transmissões profissionais não destinadas ao público em geral (e cujo conteúdo não deverá ser divulgado pelos ouvintes comuns, sob pena de infligir a regulamentação legal em Portugal e/ou noutros países. Também os radioamadores e os CBistas utilizam a BLU por forma a optimizar o alcance das comunicações.

    E por que razão as emissoras internacionais em Onda Curta não adoptaram a BLU? Em grande parte, devido à necessidade dos ouvintes se munirem de receptores com tal funcionalidade, à qualidade de som, ao melhor conforto de escuta, entre outras razões. Normalmente, as emissões em BLU não excedem os poucos milhares de watts, enquanto que as emissoras internacionais operam normalmente com centenas de kW (não esquecer que 1 kW=1000 W).



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